quarta-feira, 25 de julho de 2007

Pergunta Importante

- Mãe?

- Hum?

- Posso te fazer uma pergunta?

A mulher que estava deitada no sofá lendo uma revista, respondeu ao garoto sem olhá-lo.

- Claro filho. Manda.

Ele respirou fundo. A pergunta era importante.

- De onde vêm os bebês?

A mãe tirou um pulo do sofá, largando a revista do chão.

- Tudo bem, mãe?

- Eh... claro querido. É que você me pegou de surpresa com essa pergunta.

- Por quê?

- Eh... bem...

Saia justa. Como é que ela iria explicar essas coisas?

- Anda mãe! De onde vêm os bebês?

- Eh... filhinho, espera só um pouco que a mamãe já volta, tá?

E saiu correndo para o seu quarto. Foi pedir ajuda ao marido. Como dizer pra ele o que era...
- Ah mulher, deixa de frescura! Ele já tem sete anos! Hoje em dia tem criança até mais nova do que ele que já sabe o que é.

- Mesmo assim querido. Aquele olhinho dele, tão puro, tão inocente... Dá até dó. Eu não sei como explicar.

- Deixa comigo. Eu sou um homem moderno. Eu sei explicar como é que a parada funciona. Ele até vai se sentir mais à vontade conversando isso comigo do que com você. Calma aí...

E foi até a sala, mulher atrás. Chegando lá, falou com o garoto.

- Você quer saber de onde vêm os bebes, não é?

- Quero! – respondeu o garoto, muito curioso.

- Pois eu vou te contar tudo, tim-tim-por-tim-tim. Querida, deixe-nos a sós. Isso é conversa entre homens.

- Boa sorte. – respondeu ela, fechando a porta.

E foi para a cozinha, ansiosa.

Minutos depois:

- E aí, como ele reagiu? – perguntou ela, curiosa e ao mesmo tempo aflita.

- Bem... eu comecei a contar e... daí eu olhei para a carinha dele... Tão novo... tão inocente... Já tendo que saber dessas coisas... Eu não tive coragem. Contei a história da cegonha. Acho que ele acreditou. É melhor esperar mais alguns anos. Até lá a gente evita qualquer coisa que mostre ou leve ao assunto.

- Então tá... pra quem se dizia moderno...

- Eu sou moderno, mas responsável. E ponto final nesse assunto.

- É, ponto final.

Respiraram aliviados. O menino já estava se arrumando para ir à escola que ficava em frente à casa. Despediu-se dos pais e saiu, satisfeito com o que havia descoberto:

“Os bebês são trazidos pela cegonha! Pela cegonha! Puxa... agora eu me sinto um homem de verdade!”

Horas depois, o garoto chegou em casa. Pai e mãe estavam sentados no sofá da sala assistindo TV. Sem perder tempo, o menino puxou o pai pelo braço, arrastando-o até seu quarto.

- O que foi filho? Aconteceu alguma coisa? Você está sério.

A mãe, que ao ver a cena ficara preocupada, resolveu seguí-los, ficando escondida atrás da porta e espiando pelo buraco da fechadura.

- O que aconteceu rapaz? Fizeram alguma coisa com você lá na escola?

- Nada. É que eu queria te contar uma coisa...

A mãe ajeitou os cabelos, tensa. O que será que havia acontecido com ele?

- O senhor é muito inocente pai! Fala sério!

- Inocente? – espantou-se o pai. – Inocente por quê?

- Ora, o senhor acredita que bebê vem de cegonha. Pô pai deixa disso. Os meus colegas da escola me contaram tudo.

- Contaram? – espantou-se o pai, temendo o que iria ouvir.

- Sabe como é, né pai? O senhor e a mamãe já fizeram...

Sim, ele já sabia de tudo.

- Bem filho, agora que você já sabe, não fique comentando por aí. É chato, beleza?

- Beleza. Pode deixar. Quem diria... Por isso que eu ouvia aqueles barulhos estranhos de madrugada...

- Eh... filho...

- Por isso que quando eu queria ver o canal 13 de madrugada você não deixava...

- Bem...

- Por isso que a mamãe vivia falando que “hoje à noite o pau vai comer”...

- Eh... filho...

- Por isso que às vezes eu ouvia você falando “me dá, me dá logo, eu preciso lamber isso agora!”

- Meu Deus... – espantou-se o pai, constrangido.

Do outro lado da porta, a mãe pôs a mão na boca, constrangida. E lá no quarto, sem saber o que fazer, o pai só escutava, vermelho, mal conseguindo olhar para o garoto. Mas ele tinha que dizer alguma coisa, afinal, apesar de tudo, isso era uma coisa normal.

- Bem filho, ainda bem que você não ficou assustado. Agora que você sabe, me diga, o que achou na hora quando soube?

- Eu adorei pai! Puxa, quando é que eu ia imaginar que de madrugada, o senhor e a mãe iam pra cozinha, faziam uma massa com aquele pau de macarrão, e daí a mamãe comia e aí ficava grávida! Essa receita, pelo que eu entendi, ela aprendeu num programa que passa de madrugada no canal 13, e quando ela fazia ficava tão boa que o senhor vivia pedindo “me da, me dá, eu preciso lamber isso agora!”. Igualzinho ao que faço quando quero lamber a tigela do bolo. Essa receita deve ser mesmo boa hein papai! Pena que não dá bebê toda vez, só de vez em quando...

Receita? Ao ouvir isso, o pai abriu um sorriso. Ele ainda não sabia! Com certeza os colegas que também eram da mesma idade que ele tinham inventado ou ouvido essa história de seus pais. O garoto continuava sem saber! A mãe, após ouvir a história do garoto, também pulou de alegria e voltou para a sala aliviada.

- Pai, agora eu sou um homem de verdade, não é?

- Sim filho, mais até do que eu... mais até do que eu...

E após ouvir isso, o garoto encheu o peito de ar, ficou de pé, e saiu do quarto sentindo-se um homem mais maduro e mais experiente.

10 comentários:

Nanda disse...

Haushausas... perfeito!
Ótimo texto... mas dá medo saber que as crinaças de hj não acreditam na "receita" se contássemos!! Já er o tempo que mamãe mandava filhinho ir na esquina ver se ela estava lá e ele ia...!! O.o

^^

Parabens!!

AAh, e hj é dia do escritor, portanto... parabens de novo!! rs...

vera maya disse...

Que lindinho!!!!
Adoro historias de crianças,melhor ainda dessas histórias e crianças que nao existem mais (como já foi dito)...
Excelente quando num texto bem escrito..
Muito bom...
Bjos

Anônimo disse...

Ótimo texto..... lindo msm.. Bjos

Anônimo disse...

Otimo texto!


Parabens!


xD~~

Mariane Monteiro disse...

ahhahahah...ótimo texto!!!!!! Vou lembrar dele qndo tiver um filho e ele me perguntar !!!!ahahhahahah...abraço.

Paulo Araújo disse...

maravilha de texto, parabens

Gabriela Martinez disse...

Que lindinha essa história! Muito boa mesmo! ^^
FOfa²!
Eu devo ter sido uma massa com chocolate, pq sou um doce de menina! hAUhUAHuHAU
bjao

Macaco Primata disse...

muito meigo

meygozado

Gi Olmedo disse...

rssrs.. e pensar q meu filho já tinha perguntado isso prá mim. Vc deveria ter postado antes, tá? Só assim eu teria uma desculpa melhor e não abriria o jogo!
Hoje em dia o tempo passa mto depressa. Qdo percebemos, nossos filhos já são homens e mulheres, e não é mais possível protegê-los desse e de outros fatos do mundo (principalmente aqueles q doem). O tempo não pára, já diria o poeta!
Amei o conto. Bjo!

José Bezerra Netto disse...

puts muito bom....
adorei....vlw....