domingo, 24 de agosto de 2008

O Hábito Faz o Monge

No dia 24 de agosto foi o último dia da 20º Bienal Internacional do Livro de São Paulo no Pavilhão de Exposições do Anhembi, zona norte da capital. Num espaço de 70 mil m2, foram expostos no total mais de 2 milhões de livros, 4 mil só de lançamentos, promovidos por 350 expositores e 900 selos, para cerca de 800 mil visitantes.

Fiquei sabendo dela por acaso. Como toda vez, só nos últimos dias é que realmente se divulga, geralmente em jornais da TV. Dessa vez, tive sorte de estar na net, e ver a notícia antecipado, através de um site.

Resolvi ir naquele mesmo domingo dia 17. Saí tarde de casa, “almocei” nos McDonalds da vida, e fui para o Metrô Tietê, de onde sairia um ônibus gratuito até o Anhembi. Depois de rodar muito achei o dito cujo, e junto com uma fila imensa, cheguei lá por volta das três da tarde (pra quem mora na zona sul, é longe pra burro!).

Ah, estava em casa! Comecei a folhear o guia que uma das simpáticas funcionárias me forneceram (é sério, nunca vi tanto funcionário sorridente junto, acho que nem promotor de cartão de crédito conseguiria ser “tão feliz”).

Mais alguns estandes à frente e vejo uma aglomeração. Era de gente, de celulares e de câmeras digitais. Me enfiei no meio dessa muvuca para ver o que era. No estande da Melhoramentos, estava nada mais nada menos que Ziraldo, grande escritor e cartunista, criador do Menino Maluquinho, dando autógrafos, obvio, a quem comprou o seu lançamento “O Namorado da Fada”. O simpático senhor (a quem já confundi várias vezes com Rolando Boldrin), ora falava com seus fãs (ás vezes, não sei por que, ele fechava a cara, e ficava tão sério que até me dava medo), ora acenava para os fotógrafos anônimos de plantão. E eu, sem perda de tempo, peguei o meu celular, e dali em diante, como todo mundo, me tornei um paparazo, que se matara no meio daquela multidão de todas as idades, sexo e cores e suas câmeras, de celulares com câmera VGA a câmeras ultra profissionais com mega definição. Todo mundo lá, alguns talvez nem sabendo muito sobre ele, mas ali, frente a frente com o cara e querendo registrar o momento.

Depois, continuei andando pelos estandes. Em alguns cantos, um espaço com bancos, chamado Ponto de Encontro. Haviam vários idosos neles, com ar de “sou aposentado e agora só to curtindo a vida”, e tinha muita coisa para criança também, entre elas, uma apresentação do Julio do Cocoricó (Tv Cultura), e outros bonecos de desenhos que o meu sobrinho de 5 anos saberia explicar melhor do que eu, um grupo teatral contando de maneira bem humorada a situação atual do mercado editorial brasileiro e seus problemas. Havia também um outro grupo cantando musicas folclóricas, salas com escritores contando histórias para crianças – e de gaiato – para alguns marmanjos, como eu...

Daí fui direto as compras. Comprei um kit de atividades para o meu sobrinho, alguns livrinhos de reflexões para dar de presente a alguns amigos (apenas 1,00!), um gibi da Mônica (se não me engano o 70º da minha coleção, iniciada em 1994 – apesar de estar a mais de dois anos sem comprar), e dois livros do meu escritor preferido atualmente, Luis Fernando Veríssimo: “Mais Comédias para se Ler na Escola”, e “O Mundo É Bárbaro e o que nós temos a ver com isso”, cada um com um generoso desconto de R$ 7,00.

E mais tarde, depois de tirar mais algumas fotos e de olhar mais editoras, vi mais uma vez uma muvuca de pessoas e câmeras no estande da editora Panini. Corri para ver. Não acreditei. Era um dos meus ídolos na infância, e que sempre quis conhecer desde que vim pela primeira vez à bienal, em 2002. Era Mauricio de Sousa, autografando seu novo lançamento, o “Turma da Mônica Jovem”, dentro de uma cabine com dois seguranças na porta para conter a afobação das pessoas, e lá dentro, o autor numa mesa conversando com algumas crianças que estavam lá, alguns irritantes repórteres, que pareciam de propósito tampar com o corpo a visão de quem estava lá fora para tirar fotos e mais fotos, que não acabavam nunca. Mas não teve problema, onde consegui enxergar, registrei.

E por fim, depois de olhar no relógio e ver que já era quase sete da noite, resolvi ir embora, voltando a pegar outra fila imensa para embarcar no confortável ônibus até o Tietê.

Na sexta dia 22, apenas para acompanhar uma amiga, fui de novo para lá, só que de manha por causa do meu trabalho. Estava bacana assim como no domingo, a diferença é que nesse dia estava um mundaréu de crianças e suas “tias” da escola, pintando e bordando em tudo que viam pela frente. Mas foi legal também.

O engraçado é que, nessa história toda, eu fico pensando como um meio pode influenciar os nossos hábitos. Há pelo menos um ano eu não pegava um livro para conseguir lê-lo até o final, e bastou novamente ir na Bienal, encher um pouco a sacola, para voltar a ter o hábito saudável da leitura, e conseguir ler um dos livros em apenas 4 dias.

Bem, é isso, apenas queria registrar esses dias que fui lá, e que foram muito bacanas, e diferentes, porque das outras vezes apenas tinha ido comprar livros. Nesse ano, voltei para casa com um bom registro de autores que gosto e que nunca tinha visto pessoalmente, e com mais uma vez a certeza de que como vale a pena deixar o seu domingo de folga para descansar em casa do stress da semana, se dedicando a atividades que realmente valem a pena, e que precisam ser mais incentivadas no Brasil.

FOTOS: Danilo Moreira

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Brasil, Mostra a Tua Cara

Cena do filme "Turistas"

No dia 06 de agosto passara na Tv Record o polêmico e criticado filme “Turistas”, do diretor John Stockwell. O filme conta a história de um grupo de mochileiros norte-americanos que vêm passar as férias no Brasil, porém no meio do caminho sofrem um acidente, indo parar numa praia paradisíaca. Daí por diante, encontram de tudo: mato, paisagens paradisíacas, miséria, samba, caipirinha, drogas, mulheres prostitutas, bandidos e tráfico de órgãos. Não é de se estranhar a pesada critica da imprensa americana sobre esse filme cheio de estereótipos, e do protesto que surgiu na época (2006) para boicotar esse filme no Brasil.

Não é a primeira vez que figuras estereotipadas do país caem na polêmica pelo mundo. Em 2002, um episodio de “Os Simpsons” onde a família veio passar as férias no Rio fez o então presidente FHC exigir desculpas por parte dos produtores, já que retrataram o Rio de Janeiro como uma cidade selvagem, cheio de macacos, cobras, prostitutas, bissexuais e bandidos nas ruas, e tendo a Amazônia como vizinha!

Há também outros filmes como “Feitiço no Rio”, de 1984, “Amazônia em Chamas”, de 1994, e outros, geralmente ou de ação ou terror, que também utilizam esses clichês de um “país tropical onde tudo pode”. Felizmente são filmes que mais causam polemica do que propriamente o sucesso.

Porém, apesar de todos serem pura ficção, nós sabemos dos reflexos que isso representa depois.

Após terminar o filme, passou aquele programa “Fala Que Eu Te Escuto”, mostrando as humilhações, o descaso e o preconceito com que os brasileiros são tratados lá fora simplesmente por serem brasileiros. Turistas nos conformes da lei do país de destino, principalmente a Espanha, de repente, são confinados numa sala por horas, sem comida nem bebida, e sem qualquer explicação são deportados de volta e relatando casos de humilhação e desrespeito por parte da segurança dos aeroportos de lá.

Diante disso tudo e desses filmes, percebe-se claramente a imagem negativa que temos lá fora. Na caso das deportações, os paises europeus e os EUA podem utilizar o argumento de combate a imigração ilegal e ao terrorismo, o que até se entende, mas como explica então, segundo o próprio “Fala”, o número de brasileiros deportados até o primeiro semestre de 2008 ter sido superior a estrangeiros de países islâmicos que concentram grupos terroristas?

É claro, não sou inocente a ponto de dizer que no Brasil não tenha miséria, violência, prostituição, drogas, comércio ilegal de órgãos e outros podres que os noticiários daqui não cansam de escancarar, não só por aqui, mas principalmente no exterior. O problema é que se cria uma imagem de que no Brasil tenha somente isso, e não que temos cidades com qualidade de vida comparado a cidades de Primeiro Mundo, que a maioria do povo é honesto e trabalhador e que somos um país de múltiplas culturas.

É claro que, sem sombra de dúvida, nós deveríamos nos envergonhar por deixar nossos problemas além de não serem resolvidos, serem escancarados dessa forma a ponto de se tornar nosso cartão de visita perante os olhos de muitos estrangeiros, e pior, dizer como eu já ouvi: “Ah, mas é verdade, só tem isso mesmo”. Isso é uma forma de conformismo, e que pode ter certeza, contribui para essa situação piorar ainda mais, prejudicando a nossa imagem lá fora, e também o turismo por aqui.

Nesse caso, o Brasil precisa mesmo mostrar mais a sua cara, ou pelo menos, que ela não é tão feia assim.


FOTO: http://www.cranik.com/images/turistas.jpg

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Delírio - Um Barulho...


Tenho uma linha reta cotidiana a seguir

RATÁTÁTÁTÁ

Tenho uma vida reta cotidiana a seguir

RATÁTÁTÁTÁ

Tenho um trabalho cotidiano para cumprir

RATÁTÁTÁTÁ

Tenho sonhos cotidianos a perseguir

RATÁTÁTÁTÁ

Tenho que acordar cedo

RATÁTÁTÁTÁ

Tenho que lavar o rosto

RATÁTÁTÁTÁ

Tenho que tomar café

RATÁTÁTÁTÁ

Fui tomar e liguei a TV

RATÁTÁTÁTÁ

Fiquei da sabendo da morte da menina por bala perdida

RATÁTÁTÁTÁ

Da 6º chacina do ano na Grande SP

RATÁTÁTÁTÁ

Do assalto a banco que terminou com 6 feridos e um morto

RATÁTÁTÁTÁ

Da ação da PM num morro do Rio onde uma criança de 12 anos foi morta por bala perdida

RATÁTÁTÁTÁ

Saio da TV e vou trabalhar

RATÁTÁTÁTÁ

Fico sabendo que mataram o Macarrão

RATÁTÁTÁTÁ

Um moleque que vi crescer aqui na rua

RATÁTÁTÁTÁ

Mas que com o tempo foi pro caminho errado

RATÁTÁTÁTÁ

Também fico sabendo que mataram o Cesinha

RATÁTÁTÁTÁ

Um menino direito mas que estava no local errado e na hora errada

RATÁTÁTÁTÁ

E ainda fora morto por um policial numa blitz

RATÁTÁTÁTÁ

E vou seguindo meu caminho até o trabalho

RATÁTÁTÁTÁ

Com uma sensação estranha na cabeça

RATÁTÁTÁTÁ

De que tudo está fora do controle

RATÁTÁTÁTÁ

De que não posso mais confiar em ninguém

RATÁTÁTÁTÁ

De que preciso proteger a minha vida

RATÁTÁTÁTÁ

Que preciso proteger a da minha família

RATÁTÁTÁTÁ

Que preciso fazer alguma coisa

RATÁTÁTÁTÁ

Porque todo dia matam gente onde eu moro

RATÁTÁTÁTÁ

Todo dia matam gente inocente

RATÁTÁTÁTÁ

Todo dia roubam gente inocente

RATÁTÁTÁTÁ

Todo dia traumatizam gente inocente

RATÁTÁTÁTÁ

E nesse violência cotidiana a perseguir a minha vida

RATÁTÁTÁTÁ

A cada momento que passa me vejo obrigado a conviver com ela

RATÁTÁTÁTÁ

Seja aonde for

RATÁTÁTÁTÁ

Seja aonde escrever

RATÁTÁTÁTÁ

Seja aonde estiver

RATÁTÁTÁTÁ

Mas enquanto for possível falar

RATÁTÁTÁTÁ

E esses tiros não sufocarem as palavras de quem tem algo a dizer

RATÁTÁTÁTÁ

Vamos cobrar para que algo seja feito

RATÁTÁTÁTÁ

Ou que pelo menos esse RATÁTÁTÁTÁ

RATÁTÁTÁTÁ

Continue a incomodar os seus ouvidos

RATÁTÁTÁTÁ

E os seus olhos

RATÁTÁTÁTÁ

E não acabe fazendo parte de você.

RATÁTÁTÁTÁ

RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ

RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ

RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ


RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ

PUM
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FOTO: http://img180.imageshack.us/img180/5112/baianola6.jpg