domingo, 27 de janeiro de 2008

Duas Notas de Cem


Era de manhã naquela segunda-feira nublada do dia 10.

Na Praça da Sé, perto da Catedral, uma aglomeração de pessoas se formava. Gente de todos os cantos da cidade, gente da Grande São Paulo e de outros lugares. Gente que ia para diversos lugares. Iam, porque agora iriam parar para ver o show que estava prestes a começar. E não era qualquer show que iria começar, como os vários que ocorrem naquele palco ao ar livre chamada Centro. Também não era uma gravação para o Show do Tom.

Era simplesmente, ele, O Mágico.Era só o que se lia num cartaz ao lado de seu camarim (uma barraca de acampamento de lona azul).

Bastidores:

- Tá pronto, Zé? – perguntou Naldo, seu assistente (com sotaque cearense)

- Claro. Podemos cumeçar. – respondeu O Mágico (também com sotaque cearense).

- Num sei não moço... se eu fosse tu usava isso aí de mentira. Esse negócio vai dar problema.

- Relaxa Naldo. É pra dar mais emoção ao show.

Palco:

[aplausos]

- Bom dia senhoras e senhores, direto de Juazeiro do Norte, Ceará, eu O Mágico, e meu assistente, Naldo, viemo pra essa acolhedora São Paulo pra lhes mostrar o que fazemos de melhor: mágica...

[olhares curiosos. Naldo está agachado arrumando os objetos. Algumas pessoas comentam de seu cofre.]

- ...Bem, todo mundo sabe né, chega cumeço de mês, cai o salário suado, você vai no banco e saca o seu lindo dinheirinho... porém tudo mundo sabe que esse suado dinheirinho já tem destino certo. Dái bate aquela tristeza, aquele desânimo em saber que você só ficará com seu cascaio por algumas horinhas. Bem, representando essa frustração mensal, a mágica de hoje será justamente a rapidez como o nosso dinheiro desaparece do nosso bolso...

[risadas. Todo mundo sabe fazer essa mágica...]

- ...agora meu assistente irá pegar duas notas de cem reais, e detalhe, são notas verdadeiras...

[comentários. Unanimidade: faz essas notas aparecerem no meu bolso, vai!]

- ...e então, vou pegar dois envelopes contendo duas contas de consumo cada: uma de água e outra de telefone. Assim que eu colocar cada nota em um envelope, este mesmo vai devorá-las e assim, simplesmente, irão sumir do envelope. Prestem atenção.

Dito e feito. Notas colocadas nos envelopes. Envelopes fechados. Uma pequena mexida nos envelopes e pronto.

- Preciso agora de duas pessoas da platéia.

Eis as duas voluntárias. Naldo pegou cada uma, e entregou um envelope a cada uma.

- Agora, primeiramente tu, qual é o teu nome?

- É Maria.

- Pois bem, Maria, agora virada pra platéia, abra o envelope e mostre o que tem dentro.

Suspense. Obedecendo ao mágico, a mulher abre o envelope. Está vazio. Ela ainda sacode e o olha para ver se não tem nenhum espaço para esconder a nota. É um envelope normal.

[aplausos]

E agora, o segundo envelope:

- Qual o seu nome?

- É Jacira.

- Vamo lá, Jacira?

E, assim como a primeira, Jacira abriu o envelope. Também estava vazia e também era normal.

[mais aplausos]

- E agora pergunto pra vocês, onde está as duas nota?

Suspense. Olhares para todos os lados.

- Nenhum palpite?

Sugeriram o próprio mágico. Para provar que não estava com ele, abriu todos os bolsos de suas roupas. E realmente estavam vazios. Sugeriram Naldo. Este também fez o mesmo gesto [um rapaz fez uma piada maldosa, dizendo que ele havia enfiado as notas no seu cofrinho]. Sugeririam então as duas voluntárias. Também fizeram o mesmo. Nada. O dinheiro realmente havia sumido.

- Mais alguma sugestão? Nenhuma? Então vamos procurar as duas notas.

O Mágico então, pegou os dois envelopes de volta, fechou-os novamente, fez leves movimentos com as mãos, embaralhou e os entregou novamente às mulheres. Pediu que elas abrissem e exibissem o que estava lá dentro.

Eis os aplausos. Cada mulher retirou uma nota de cem reais de cada envelope. As pessoas pensavam entre si como fizeram aquilo, se a todo momento o assistente ficara longe do mágico e este em nenhum momento ocultara as suas mãos dos olhos do público, que estava todo ao seu redor. Era o grande O Mágico. O grande artista da Praça da Sé pegou as duas mulheres que serviram como assistentes, e acenou para o público para que também as aplaudisse, afinal, sem elas, o grande show não teria acontecido.

E por fim terminara o show. Após recolher os envelopes e as notas, O Mágico e seu assistente recolheram-se aos seus camarins improvisados. As pessoas começaram a se dissipar de volta às suas rotinas.

E no camarim:

- Viu Naldo, não aconteceu nada com as notas. Relaxa home, o Centro tem muita malandragem sim, mais ainda se pode andar com uma nota dessas por aí.

- Tá bom, vai pensando assim... – respondeu Naldo com olhar de quem queria dizer mais alguma coisa, e em tom de deboche.

E O Mágico, ao guardar seu número na caixinha, reparou em algo estranho: as notas estavam com cores diferentes e mais borradas em alguns cantos. E o papel também estava estranho. Resolveu colocar as notas contra a luz da lamparina que iluminava o local. Concluiu: as notas eram falsas.

- Rapaiz, olha isso! As nota são falsa! Mas como? Eu juro por tudo que é mais sagrado que peguei as nota de verdade! Cadê esse dinheiro? Cadê o dinheiro? Você viu Naldo? Naldo? Naldo? Naldo? Oxe... rapaiz...

E por fim, como num passe de mágica, o dinheiro foi para o bolso de um esperto.

Mas, como sempre, só as contas ficaram.


FOTO:
http://www.torcedorcoral.com/wp-content/uploads/2007/09/dinheiro.jpg

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Sob Efeito de Remédios



Meu braço muda de lugar sem eu sentir.
Meus olhos mudam de lugar sem eu sentir.
Meus passos mudam de lugar sem eu sentir.

Vejo luzes claras iluminando a escuridão do meu quarto que ora rachado exibe o mofo do tempo que já parei.

Venham luzes tortas apalpar a pele do meu corpo, a fim de bronzear os meus pensamentos e queimar os espinhos que me perfuram, disparam o meu coração e me fazem tremer.

Meus olhos pesados puxam o meu corpo para baixo, e mesmo eu lutando para não levá-lo abaixo ele parece com mais força do que eu.

Mas, pensando bem, diante dos espinhos que já engoli e vomitei, e daqueles que ainda quero pôr para fora a velocidade de tiros de bazuca, melhor obedecer os meus olhos.

Porque as bazucas matam.

E os espinhos, como sempre, continuarão a perfurar.

Sim senhor, os meus olhos.

E assim meus olhos me seguram pelas suas mãos sonolentas e pedem que eu me despeça da luz torta.

Tchau luz.
Tchau luz.
Tchau.

E meto a cara na escuridão. Uma escuridão que carrega o meu corpo a passos de um transatlântico com velocidade de um peixe.

E mergulho, mergulho, mergulho...

Aguarde a próxima luz.

Mas por favor, não espere ela ficar torta de novo.

Para você não tropeçar, cair, bater a cabeça, e ter um traumatismo craniano.

zZZZZZzZZZZZzZZZZZzZZZZZzZZZZZzZZZZZzZZZZZzZZZZZzZZZZZzZZZZZz

FOTO: Baixaki

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

O Tribunal


No tribunal da vida, não só os culpados são julgados, mas também os inocentes.



FOTO: http://all4luv.files.wordpress.com/2007/07/000801_0286_0014_tsls.jpg

domingo, 13 de janeiro de 2008

Tragédia News

Não sei se isso já aconteceu com você, leitor.

Você está dormindo. O seu relógio desperta, você acorda, se espreguiça, vai ao banheiro lavar o rosto, etc...

Dentro de você paira um sentimento gostoso, de animação, de corpo e cabeça bem descansados, pronto para começar um novo dia.

E então, após sair do banheiro, você olha no relógio. É cedo paca. Você então, vai ate a TV, pega o controle e a liga.

Está passando o jornal da manhã e suas notícias:

“Criança morre atropelada por carro”
“Seis tiros matam mulher grávida em favela no RJ”
“Seis pessoas são assassinadas no Chile”
“Marido e esposa são mortos na porta da igreja”
“Filha mata pai porque queria ir à festa”
“Senhora de 90 anos sai de hospital e morre vítima de bala perdida”


Daí é que você realmente acorda e se lembra do mundo caótico em que vive. O que era ânimo e tranqüilidade virou novamente aquele desânimo rotineiro misturado com ódio e revolta. Pronto, já estragou a sua manhã.

E a coisa vai se repetindo pelo dia. Qualquer banca que você olhe, mesmo de dentro do carro ou de um ônibus, a notícia mais chocante sempre estará em evidencia. E em muitos jornais é a mesma, só que vista de ângulos diferentes.

É claro que nós vivemos num país violento e onde há muito que se fazer para melhorá-lo, mas será que assistir/ler jornais cujo foco principal é só notícias trágicas e sensacionalistas, é realmente se manter bem informado? O que notícias de um cara que mora lá na China ser assassinado pela esposa acrescenta na nossa vida?

Uma coisa é certa, quase todo brasileiro gosta de ver uma tragédia. Mesmo que não goste, mas entre uma notícia de uma nova exposição de arte e uma notícia de acidente na Via Dutra, esta última é que irá chamar mais a atenção.

Não quero, em primeiro lugar, criticar e propor soluções para esse excesso de notícias trágicas como um jornalista experiente ou aqueles jovens com discurso anti-alienação, anti-mídia e outros “anti” já bastante banalizados. Aqui são palavras de um simples telespectador que não agüenta mais, em certos horários, a exibição excessiva de certos assuntos que já estamos cansados de ver.

Há muitos outros assuntos a serem informados, como economia, arte, esporte, entre outros.

Claro que há vários jornais que se salvam, porque sabem dosar a quantidade de notícias a serem veiculadas. Há um público que prefere esportes. Há outro que prefere ouvir novidades sobre música. Há outro que prefere ver notícias como o trânsito na cidade, as melhores ofertas de emprego, quais as novas do prefeito da cidade, ou o governador do estado ou o presidente. Outros preferem assistir sobre problemas da sua própria comunidade e buscar soluções.

O problema é que, quando ocorre um evento muito forte como foi o acidente em Congonhas, ou os atentados de 11 de setembro, não se fala mais em outro assunto, ainda que você queira mudar de canal e fugir um pouco daquilo. E nos sabemos que isso é fruto de uma gana por audiência, por ter o privilégio de dar a noticia primeiro, gerando assunto para boteco de esquina e para que as pessoas possam comprar mais jornais e revistas. Todo mundo se choca, todo mundo fica horrorizado, mas no fim esquece. Na minha opinião, exibir muitas noticias trágicas ajuda na banalização da violência, fora que cria-se um sentimento de medo e pessimismo desnecessários, afinal, não é porque um avião caiu em Congonhas que todos os aviões de lá irão cair. Não é porque o Rio de Janeiro está violento que você vai chegar lá e ser assaltado e morto por bala perdida. Chances existem muitas, mas jamais haverá todas as certezas.

Há certas pessoas, que quando mudam para um certo programa a la “Linha Direta”, não aceita quando criticamos, sob a desculpa de que a gente não quer ver a realidade. Será mesmo essa a realidade que precisamos saber? Já viu cair em algum vestibular sobre o caso Suzanne Richtofen, sobre algum morador do Rio morto por bala perdida, ou sobre o caso Medeleine? Pode até usar a notícia como complemento sobre algum tema como a violência, etc, mas nunca a noticia isolada em si.

Agora lhe pergunto, o que é a realidade para você?

Pense nisso.


FOTO: http://www.midiativa.org.br/var/storage/original/image/phpGI6lIl.jpg

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Um Blog Cabeça


A maioria das vezes acontece assim.

É num dia comum. Um dia em que normalmente fuço na internet mais por hábito do que propriamente por um motivo especifico.

Como hábito, quase todas às vezes, costumo abrir o meu blog e ler os comentários que foram feitos. Leio até os de postagens antigas.

E, geralmente nesses dias, é que eu sempre tenho a surpresa maravilhosa de ter sido indicado para um memê.

Blog Cabeça é um memê para blogs que tem o que dizer, ainda que não seja com as palavras.

Minha indicação veio do mestre R. Lima e seu AveSSo:

"O Danilo cada dia que passa se especializa e refaz um caminho particular em busca do ser em franca construção. Suas escritas aprofundam-se em vasos sutis de saber e transbordam uma energia nova em nossas vidas. É, sim, uma aposta pessoal."

Mais uma vez obrigado R. Lima, primeiro pela sua indicação, e segundo, por saber que ela veio de você, um mestre na arte da reflexão.

Agora, antes de exibir os meus indicados, faço a você leitor uma singela pergunta. Se seu blog já foi indicado para algum prêmio, concurso ou memê, qual foi a reação das pessoas de fora da blogosfera ao saberem disso?

Creio eu que perguntaram, indiferentes: "O que você ganha com isso?"

Talvez algo que nós ao participar desses memês temos a ensinar à outras pessoas, é que nem todos os prêmios precisam ser exatamente em dinheiro para serem valiosos. Pelo contrário. O valor de um prêmio, na minha opinião, se mede pelo valor que ele representa a si mesmo, e não somente em cifras. Quem pensar o contrário que continue pensando, mas não se esqueça que "dinheiro na mão é vendaval", mas o prazer de se ganhar algo valioso a si mesmo é eterno.

E por fim, depois desse pequeno desabafo, eis aqui os meus indicados:

Diego Moretto: esse blog é excelente. Mistura temas variados de política, filmes, música, etc. O meu preferido é sobre música, principalmente quando é apresentado novidades destacando inclusive as melhores faixas de um álbum. E tudo bem escrito e sempre levando o leitor a compartilhar e opinar com ele.

Devaneios Bobos: é um blog muito cabeça, que contém textos reflexivos, desabafos, e muita arte.

Outras Andanças: é um blog que me indentifico muito pelo estilo ser um parecido, porem, com a presença de vários poemas muito interessantes. É outro na linha reflexivo.

Bem, e como não poderia deixar, preciso agradecer a todos que assiduamente, ou uma vez ou outra, visitam este blog e param alguns dos seus preciosos minutos para ler os devaneios e as broncas deste jovem blogger, que sabe que ainda tem muito o que aprender, mas sempre procura fazer a sua parte.

Obrigado.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Atitudes


Olhe os olhos dos olhares dos olheiros.

Veja a cara de pau dos caras que não vão com a sua cara.

Sinta o sentimento fúnebre de não sentir nada do que se deve sentir.

Mire e atire no ego daqueles que possuem uma caixa de vidro pintado de falso ouro.

Quebre a seqüência desse mundo em decadência.

Beije cada metro quadrado do sentido dos seus sonhos.

Corte o laço de cada passo travado que impede o caminho de seu ponto de ônibus.

Adoce o pote de sal pingado que atirado detona tudo que está à nossa volta.

Destrone as vontades da sua mente confusa e que o confunde a passos cambaleantes.

Erga com imponência os tronos que você conquistou derrubando os capangas do fracasso.

Mostre as fotos e as histórias que você escreveu enquanto pisava nos fantasmas da sua cabeça.


E então, no fim de todas as guerras, todos os bombardeios, todas as traições e todas as atitudes erradas, sempre sobrará um aprendizado.

E é claro, muitas histórias para contar.

E no fim de cada confusão há sempre uma arte a ser mostrada.

Que a arte da sua vida seja cada vez mais bela, e eterna.


FOTO: http://i152.photobucket.com/albums/s170/sempreon/le-parkour.jpg

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Uma Pequena Parada no Acostamento


Mais um ano que chegou. Mais um ano que se foi.

Hora de parar de caminhar pela estrada da vida, parar no acostamento, sentar na beira de um lago, tirar os meus tênis, olhar o reflexo do meu rosto na água, e observar o que eu trouxera até aqui.

Me recordo que quando iniciara-se 2007, nada eu havia prometido. Não quis. Já fizera isso em anos anteriores. Em alguns eu consegui cumprir. Em outros, tive que engolir a seco a sensação de fracasso. Nesse ano eu apenas prometi que não iria prometer nada. E acho que cumpri.

Foi um ano intenso. Entrara nele com a cabeça numa peça de teatro inspirada em Faroeste Caboclo, projeto meu e de uma grande amiga do trabalho. Vimos esse projeto ruir por falta de gente realmente interessada, e o nosso sonho de ver aquela peça sendo apresentada adormecendo. Mas tenho esperanças de que com as pessoas certas ele ainda irá acordar, e mostrar que todo o esforço que eu a minha “irmanzinha” tivemos não fora em vão.

Falando em amigos, para quem na adolescência reclamava que era sozinho e excluído do mundo, hoje não posso reclamar. Conheci pessoas maravilhosas, e especialmente uma, cuja amizade ultrapassou a barreira das nossas afinidades, passou pela alma, até chegar num canto iluminado e especial do coração. Com ela aprendi a forte importância de um simples abraço, ou de um simples sorriso, e que ás vezes o melhor é largar um pouco os nossos problemas e usar os nossos braços para enxugar as lágrimas e não deixar as pessoas que mais amamos caírem.

Foi um ano estressante. Como eu parecia ter previsto em alguns contos que fiz em 2006 (prometo que ainda irei publicá-los), me tornei um cara massacrado pela rotina e escravo dos seus compromissos, das metas, e principalmente do relógio. Ao mesmo tempo, simplesmente para fugir disso, aproveitei muito as horas de distração, rindo muito e zoando muito ao lados dos colegas.

Mas, algo que me marcou fortemente esse ano, e que confesso até hoje ainda estar aprendendo a lidar, foi sentir na pele a difícil sentença de que ninguém é eterno, e que de uma hora para outra as pessoas podem nos deixar. Foram duas perdas que mexeram muito comigo, a ponto de quase abalar os pilares da minha lucidez. Hoje, mesmo sabendo que essas duas pessoas queridas estão em um lugar melhor, ás vezes me pego pensando nelas com uma certa tristeza, mas hoje dou mais valor as pessoas que amo, seguindo a famoso verso de Renato Russo: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanha”.

Me tornei uma pessoa mais pé no chão. Ás vezes acho que até demais. Diferente do sonhador maluco que já fui, daqueles que achava que podia abraçar o mundo com quem abraça um travesseiro, hoje calculo mais os meus passos, tenho consciência de que há chances e chances, que tudo gira em volta de possibilidades, mas sem otimismo, motivação e teimosia, não se chega a lugar nenhum, ou pior, não se sai de lugar nenhum.

E por fim, foi o ano em que nasceu o Blog Em Linhas, um projeto que eu enxergo como um filho. Para quem até cinco anos atrás não permitia que seus textos passassem da porta do seu quarto, publicar o que escreveu e saber que as pessoas de todo o Brasil e até do exterior lêem e comentam sobre o que eu escrevo, é algo gratificante e motivador, mesmo sabendo que não ganharei dinheiro com isso (rs)... Dinheiro é mero detalhe, tesouro mesmo é ser útil, e produzir algo de bom para mostrar às pessoas, e é isso que eu procuro fazer neste blog.

Bem, e agora chegou 2008.

Paro de olhar o meu reflexo no lago, sentindo um misto de sentimentos, como uma retrospectiva a tudo que passou, um rápido resumo inclusive do que senti em cada um desses momentos. Faço um balanço do que ganhei e do que perdi. Fico feliz por ter ganhado mais do que perdi, e por ter tido mais histórias para contar mundo afora.

Agora passo a olhar para o caminho que estou percorrendo. Eu tento olhar, mas não consigo.

Olho rapidamente. À principio me parece normal, com as suas paisagens, suas pedras e suas cobras venenosas à espreita. Tudo como sempre foi. Mas sei lá, sei que possuo um fio de pessimismo que me parece um pernilongo zumbindo na minha cabeça em noites de calor, e é isso que me impede de olhar muito para a frente. Sempre que fiz isso no fim acabou sendo outra coisa. Poucas coisas a gente acerta, até porque as pessoas mudam, a nossa cabeça muda, nossas percepções se alteram e os nossos sonhos às vezes até sofrem mutações... e por aí vai...

Apenas quero que 2008 seja um ano iluminado para mim e para você leitor. Não vou dizer um ano de paz, de menos violência e corrupção porque isso não se resolve com o simples passar de um ano, o buraco é mais embaixo, mas que pelo menos cada dia, cada hora, cada minuto, e cada segundo, que você alcance cada vez mais os seus objetivos, e que nunca perca a vontade de viver, ainda que tudo pareça estar caminhando para o fim. Que você sempre tenha pessoas em que confia à sua volta, que pelo menos um dia você possa parar e olhar para o horizonte ou para uma simples formiga carregando uma folha.

Pegue a taça com o melhor dos seus sentimentos, e brinda 2008 saboreando o doce gosto do nascer de um novo dia, e o começo de mais um capítulo no livro das suas experiências.

E que sempre que puder, eu e você possamos agradecer por estarmos vivos, com saúde, e por ter chegado até aqui.

Hora de voltar a caminhar. Até a próxima.


FOTO: http://graodeluz.blogs.sapo.pt/arquivo/CAMINHO.jpg