sábado, 24 de novembro de 2007

Uma Pequena Dose de Vinho Amargo


A grama está virando terra seca
Os ventos estão mais fortes e empoeirados
As pessoas mais sérias e apressadas
O sol já não brilha mais como antes
Seu coração não bate mais com tanto vigor

Já não se ouve o canto dos pássaros
Por onde se anda vê-se pombos esmagados
Os carros vivem de vidros fechados
Seus motoristas tão duros quanto a lataria de seus carros

Na TV enterra-se todos
Crianças
Idosos
Gente
Casas
Aviões
Metralhadoras
O sangue fica à mostra escorrendo como um rio

Olhou para cima encabulado
Logo por dois segundos
Seus tempos de reflexão acabaram
Porque os inúteis já roubaram o seu sossego
Hoje dois olhos já não são mais suficientes
A atenção deverá estar por todos os lados

Mas mesmo assim ele ainda conseguiu perceber
Que aquele céu cinzento de poluição
Está cada vez mais escuro

É só a tempestade chegando, meu amigo, é só a tempestade chegando.

Abra o guarda chuva para proteger a sua alma, porque ela pode molhar demais e criar mofo.

Isso, se com o tempo, ela não apodrecer...

E nós sabemos que há ratos à nossa espera...


FOTO:http://baixaki.ig.com.br/imagens/wpapers/BXK15248_tempestade-serra-negra800.jpg

sábado, 17 de novembro de 2007

Em Cacos


Os trovões da sua cabeça emitem raios que estão ultrapassando as barreiras do seu corpo.

A cada barulho, a cada raio, o seu coração parece doer mais.

A sua cabeça parece gritar desesperadamente, jogando os seus punhos contra cada parede.

Cada soco dói na alma.

Há uma vontade estranha de queimar cada quadro pintado e cada passo que deras antes.

Mas o estranho, ridículo e abominável é que o ser humano só se lembra dos passos errados.

Das pisadas em falso;
Das vezes em que acabara pisando em flores;
Das vezes em que pisara coração dos outros;
Das pisadas tão estúpidas que o fizeram cair;
Das vezes em que lhe comparam com um bebê que apenas sabe engatinhar;
Das vezes em que suas pisadas travaram;
Das vezes em que suas pernas começaram a doer.

E de repente, quando pisas num lugar tranqüilo, com a certeza de estar pisando certo, algo estranho aparece em seus olhos.

Cada parte da sua pele parece rachar-se em cacos de vidro.

Cada pedaço seu parece se despedaçar na estrada.

E o que mais dói é que, enquanto para as pessoas que te amam esses cacos valem ouro.

Você mesmo não sabe o distinguir das outras pedras.

À essa altura, meu caro, os seus olhos também já desabaram...

Chame o faxineiro para limpar os restos.


Foto: http://www.poli.globolog.com.br/bolaquebrada.jpg

domingo, 11 de novembro de 2007

Delírio nº 6 – A Humanidade


Caminhando tranqüilamente nervoso
Nervosamente caminhando tranqüilo
Viemos de uma terra sem lei
Caminhamos para uma terra sem lei
Somos uma terra sem lei?

Viemos de pedra lascada
Passamos por incontáveis guerras
Passamos por ampliações de terreno
Terremos que ultrapassavam mares

Por
Mares
Nunca
Dante
Navegados

Mecanizamos o nosso mundo
Nossas pessoas
Nossos produtos
Nossos pensamentos
Nosso tempo
Nossa rotina

Perdemos o sono,
Perdemos a calma
Perdemos a alma
Perdemos o tempo
Perdemos dinheiro
Perdemos contas
Perdemos árvores
Perdemos cartões
Perdemos família
Perdemos a vida


..........[som] ..........[som] ..........[som] ..........[som] ..........

.......[calma] ........[calma] ........[calma] ........[calma] .....

.......[silêncio] .....[silêncio] .....[silêncio] .....[silêncio] ......


CORRA [olha a hora!] COOORRA [olha a hora!] COOORRA [olha a hora!] COOOOORRA [olha a hora!] COOOOORRA!!!!!!!!!! [olha a hora!] COOOOOOOORRA!

E agora caminhando por essa estrada de povo insano, pedras de lascar, balas de lascar, saudades de lascar, stress de lascar, eu me pergunto, onde este mundo está indo, se está indo parar no fundo do seu fundo, ou na frente do seu fundo.

Mas esse fundo está mais profundo de que o mundo possa imaginar.

Nós estamos cavando
Estamos cavando
Estamos cavando
... cada vez mais cavando...

Esta terra me deixa apreensivo
tenha medo dela ser radioativa
tenho medo desses micróbios corroerem o meu coração
que bate com a pureza do sangue e dos lanches de fast food
a minha mente que funciona a dose de vitaminas industrializadas
o meu corpo a base de plásticas
as minhas roupas feitas para milhões de pessoas

......todas iguais......todas iguais..... todas iguais.......

a terra está encharcando o nosso corpo
preciso de água para tomar banho
lavar a minha pele e lavar o meu tênis

lavar.....lavar.....lavar.....lavar.....lavar

Mas a cada cavada que passa
a água vai ficando mais escassa
pois o sol está secando e a sede de todos aumentando

Enquanto não for paga, beba a que resta
porque no dia em que ela acabar
tu só poderás viver de reza
isso se seus lábios não secarem
e não puderem soltar mais sons desesperados
porque o grito dos poderosos ecoa
pela força da quantidade de seus empregados
enquanto pessoas com gritos menores tentam aumentar os seus dotes

vamos aguardar um momento
mas que esse momento seja pequeno
caso contrário
a nossa ligação será encerrada

tu+++tu+++tu+++tu+++tu+++tu+++tu

Foto:http://www.cidadaodomundo.org/wpcontent/photos/A_juventude_pode_mover_o_mundo.jpg

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Amor pela Vida


Se a vida te der as costas, segure o seu ombro, vire-a para defronte a você, agarre os seus cabelos, a surpreenda com um beijo.

Você verá que a vida cairá aos seus pés, lhe proporcionando incontáveis e memoráveis momentos de intenso prazer.



Foto: http://duard.com.br/blog/wp-content/uploads/2007/02/beijo.jpg

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A Arte de Desabafar


Certo dia, fuçando nos blogs da vida, li uma postagem que me deixou um tanto reflexivo e retrospectivo.

O blog era de um rapaz cujo nome não me lembro agora, mas a postagem era um desabafo.

Me pareceu um rapaz com algo bem entalado na garganta, com uma espécie de angústia no peito, e o motivo parece ter sido algo referente ao fato de escrever no blog e as opiniões, especialmente as caluniosas. Foi muito bem escrito e eu, confesso, me comovi com a humildade e o gosto com que ele disparava aquelas palavras, meio que a frase do meu cabeçalho “Quando as palavras se tornam o nosso mais precioso divã”.

Veio um filme na minha cabeça. Me lembrava que, enquanto ficava quieto e isolado na minha carteira, na 7º série, olhando todos à minha volta se enturmarem menos eu, por causa da minha timidez, pegava uma matéria vazia do meu caderno e descarregava tudo ali, na época, como poemas.

Quando brigava com a minha mãe, sempre por motivos fúteis ("aborrecência...") me trancava no quarto e ia lá, me abrir para o papel, sempre com o velho discurso do “não sou mais criança”, “ninguém me entende”, etc...

Quando amava uma garota, e de repente descobri que ela não queria namorar comigo e ainda arranjou (fingidamente) um outro cara para me afastar, também corria para o papel e desabafava.

E por aí vai, até hoje, porém são desabafos por motivos mais externos como a falta de educação, ou as injustiças sociais, etc.

Já diziam quando eu era criança que o papel é mais paciente que o homem. Ele é um amigo seu, um amigo calado, pronto apenas para lhe ouvir. Ele não dá conselhos, não te abraça, não não segura as suas mãos, não acaricia a sua cabeça, apenas fica lá, sem nada, lhe disponibilizando apenas linhas, esperando que você o faça cumprir a sua função.

Mesmo não tendo todas as qualidades e reações de um amigo, é incrível como em certos momentos, ele é a companhia ideal para a gente. Nem sempre as pessoas nos entendem, ou não tem paciência para nos ouvir. Às vezes escolhemos tão errado as pessoas, que no fim nós é que podemos acabar prejudicados com falsidade e até punhaladas.

Já com o papel é diferente. É você quem escolhe o que dizer para ele. Pode-se falar tudo, pode-se até batê-lo ou xingá-lo, ele não fará nada contra você. Porém, há uma ressalva: o papel é aberto para quem quiser lê-lo. Diferente dos verdadeiros amigos que podem levar segredos para o túmulo, o papel está te estampando ali, basta que alguém o consulte. Daí já entra a necessidade de saber guardar o que você escreveu, ou se for algo que até te causa constrangimento, rasgá-lo e jogá-lo fora.

Falo de papel, porém, concordo em gênero, número e grau, que o blog também é um amigo, a diferença é que lá há comentários, mas aí vai da maturidade da pessoa em saber que algo que está sendo exposto para o mundo todo, é, portanto, sujeito a julgamentos e opiniões (desde que não difamadoras). Mas o blog também não deixa de ser um ótimo campo para desabafos profundos, afinal, é uma forma de gritar a todo o mundo e pôr para fora o espinho que arranha a nossa garganta, transformando-o em uma bela escultura a ser vista e contemplada, e é claro, porque não, odiada?

E por fim, encerro este texto dizendo a quem está nessa situação, transforme sua dor em arte, porque no fim, a dor passa e a arte fica, como um registro de mais uma moeda colocada no seu cofre de experiências.


Foto: http://tn31.deviantart.com/fs9/300W/i/2006/052/8/8/O_grito_by_FabiolaFernandes.jpg