quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Toda Linha Tem o Seu Fim

Na hora de se criar uma história, acredito que as partes mais complicadas sejam o começo e o fim.

São complicadas porque são, de certa forma, as partes mais importantes de um texto. Um começo tem que ser atrativo, tem que conter elementos que além de convidar o leitor a embarcar naquelas linhas, cria-se a partir daí uma base que irá se desenvolver conforme o desenrolar da história.

O final é o mais difícil, porque é a resolução e principalmente a conclusão de toda aquela estrutura que você criou. E precisa ser um ótimo final, um final digno de toda a história criada. Um final que sintetize tudo que se viveu lá, o que se viu, o que se aprendeu, e que termine com uma conclusão. Pode ser esteticamente bonita, tecnicamente útil, e/ou emocionalmente compensador.

Mas, e quando na vida real nós damos um começo a um desejo, mas este mesmo desejo acaba sofrendo desgastes perdendo-se dentro de si mesmo, fazendo com que o prazer de se executá-lo acabe virando uma obrigação, e no fim das contas, nos vemos obrigados a dar um final para ele?

Há algum tempo, há cerca de três semanas, já andava pensando sobre isso. Já não era mais a mesma coisa. Não era mais a cara do meu atual desejo. Não era mais prazeroso. Não era mais eu.

E decidi: vou por um ponto final nessa história. Vou me retirar. Vou buscar novos caminhos. Vou voltar para o meu mundo.

E por isso, agora anuncio: este autor está com as malas prontas para uma viagem rumo a uma ilha deserta. E com a chave na mão para fechar esta casa.

Esta casa, que foi construída minuciosamente por dias a fio, cujas paredes pretas foram testemunhas de várias criticas, vários delírios, várias sessões nostalgia, casos, tempestades, pensamentos, reflexões, fortes comentários, comentários inúteis, comentários polêmicos, grandes parceiros e grandes desabafos.

Queria dizer muita coisa, agradecer a todos que colaboraram neste espaço, como a Pequena Gi, o Amnésico, o Diego, a Mila, o Wander, e a todos aqueles que divulgaram o link do blog, aos que me premiaram com seus selos, ou que simplesmente apareceram por aqui ora assiduamente ora entre longos espaços de tempo para opinar de forma inteligente os assuntos postados.

E a você, R Lima, o primeiro a me incentivar desde a 1º postagem, e a minha maior base para que eu chegasse até aqui, obrigado por tudo, e pode ter certeza que eu continuarei a prestigiar o seu Avesso, que me faz tão bem. Aos outros parceiros também continuarei freqüentando, pois cada um tem o seu estilo e a cada postagem nova, um assunto mais interessante.

E a todos os leitores, também um muito obrigado por parar alguns de seus minutos para ler este espaço aqui.

E é isso, a partir de agora, o “Em Linhas...” se despede da blogosfera. É claro que ele não morrerá, continuará aqui, intacto, do jeito que estou deixando ao sair dele. Quem sabe, num dia em que meu coração pedir, eu volto para esta casa, mais maduro, com mais histórias para contar...

Mas ai, será o inicio de novas linhas. À estas, como são atualmente, encerro hoje com um ponto final.

Porque no fim das contas, toda linha que começa, independente do seu tamanho, independente do seu impacto e da sua profundidade, sempre terá o seu fim.

Mas, como detesto pontos finais, prefiro encerrar com reticências...

Então, a você, a todos que leram estas linhas, um muito obrigado.

E até uma próxima estação...

FOTO: http://www.webalice.it/daniele.labieni/Image1.jpg%20SOLITARIO.jpg

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Vinte e Três


Sexta-feira, cinco de setembro, mais uma casa alcançada.

Agora, são 23.

Dia de comemorar essa data tão especial, de reunir os amigos, de ser zoado por eles, de ganhar presentes, de receber abraços e outros gestos de carinho que, às vezes, vem até de pessoas que a gente não espera.

Fiz como manda o figurino do dia. Pela primeira vez, comemorei meu aniversário num rodízio de pizza, com vários amigos. Foi legal em alguns pontos, péssimo devido a algumas coisas, mas de forma geral, valeu a pena guardar de recordação.

Recordação...

Óbvio que não tem como ficar mais reflexivo nesses dias. Fazer um balanço do que me tornei, do que vivi de um ano para cá, do que aprendi.

Percebi como o tempo passou, e continua passando. Amigos meus da escola já são casados, possuem filhos, estão se formando da faculdade, foram para o exterior construir a vida, e eu ainda continuo apenas trabalhando, batalhando uma bolsa na minha faculdade de jornalismo. Sim, me senti estagnado.

Diferente do que escrevi na postagem do ano passado, onde me dizia sentir um vitorioso do conflito comigo mesmo, percebi que não foi bem assim. Ainda há muitos resquícios do que vivi no passado, e que muitas vezes ainda me atormentam. Passei também a dar por falta de alguma coisa minha que perdi lá atrás. É engraçado isso, porque não ainda não sei exatamente o que é, mas eu sinto que perdi, e faz falta.

Aprendi a saber expor mais os meus sentimentos para pessoas que realmente valem a pena, e a me deixar ajudar por elas. Também aprendi o quanto o veneno do mundo pode transformar os sonhos e a motivação de uma pessoa mesmo sem ela perceber e tentando se defender, e só tendo mesmo muita força de vontade é que se chegará algum ponto sem dar tropeçadas fatais.

Também aprendi que por trás de uma pessoa, há sempre um coração.

E principalmente, aprendi que nessa vida eu tenho muito o que aprender.

E por fim, encerro esta crônica, agradecendo à Deus e às pessoas pelo carinho, pelos aprendizados, pelos momentos inesquecíveis, pelas broncas que precisei, pela força que me deram quando eu realmente achei que iria cair, e por todas os amigos e pessoas especiais que conheci, inclusive, aqui na blogosfera.

Realmente, a cada ano que passa, eu percebo o quanto isso tudo é valioso,
porque é o que realmente fica.

Esta data também marca um momento de mudanças e de decisões importantes para mim (que aliás, uma delas, será escrita na próxima postagem de quarta-feira, dia 10). Mas, no fim das contas, depois dessas reflexões, apenas ponho os sapatos, volto a caminhar pela estrada da vida rumo àquilo tudo que eu desejo.

Uma estrada que à principio parece me fazer mais sombrio, mas no fundo, apenas me ensina que a verdadeira luz está dentro de mim.

Somente de mim.

FOTO:http://lh4.ggpht.com/magal.lucas/R_RF4a9eWoI/AAAAAAAAAHo/pdJPvIEDgqs/rumo%5B1%5D.jpg

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Sessão Nostalgia 4 - Sai de Baixo


1996, domingo á noite. Bastava esperar acabar o Fantástico, para começar aquela abertura em desenho de um prédio e vários moradores fazendo as maiores maluquices e confusoes. O prédio ficava no Largo do Arouche, centro de São Paulo.

Num dos apartamentos, morava uma familia composta inicialmente por Vavá (Luis Gustavo), a irmã Cassandra (Aracy Balabanian), a sua sobrinha "inteligente" Magda (Marisa Orth), o marido dela - o esnobe Caco Antibes (Miguel Falabella), o inesquecível porteiro Ribamar (Tom Cavalcante) e a primeira e mais querida empregada do seriado, Edileusa (Claudia Gimenez).

Dirigida por Daniel Filho e outros brilhantes diretores da atualidade, a série foi exibida na Globo de 1996 à 2002, e também contou com a participação de vários artistas. Foi uma série que deixou saudades.

Se voce quiser saber mais sobre a série, e outras curiosidades sobre a sua produção, clique no link abaixo:

http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-257961,00.html

Com você, já que estamos em ano de eleições, ironia do destino ou não, encontrei esse pequeno vídeo no youtube, um debate "político" entre o candidato Caco Antibes, e sua concorrente, Edileusa.

Divirta-se.



FOTO: http://www.fabber.blogger.com.br/SaideBaixo.jpg

domingo, 24 de agosto de 2008

O Hábito Faz o Monge

No dia 24 de agosto foi o último dia da 20º Bienal Internacional do Livro de São Paulo no Pavilhão de Exposições do Anhembi, zona norte da capital. Num espaço de 70 mil m2, foram expostos no total mais de 2 milhões de livros, 4 mil só de lançamentos, promovidos por 350 expositores e 900 selos, para cerca de 800 mil visitantes.

Fiquei sabendo dela por acaso. Como toda vez, só nos últimos dias é que realmente se divulga, geralmente em jornais da TV. Dessa vez, tive sorte de estar na net, e ver a notícia antecipado, através de um site.

Resolvi ir naquele mesmo domingo dia 17. Saí tarde de casa, “almocei” nos McDonalds da vida, e fui para o Metrô Tietê, de onde sairia um ônibus gratuito até o Anhembi. Depois de rodar muito achei o dito cujo, e junto com uma fila imensa, cheguei lá por volta das três da tarde (pra quem mora na zona sul, é longe pra burro!).

Ah, estava em casa! Comecei a folhear o guia que uma das simpáticas funcionárias me forneceram (é sério, nunca vi tanto funcionário sorridente junto, acho que nem promotor de cartão de crédito conseguiria ser “tão feliz”).

Mais alguns estandes à frente e vejo uma aglomeração. Era de gente, de celulares e de câmeras digitais. Me enfiei no meio dessa muvuca para ver o que era. No estande da Melhoramentos, estava nada mais nada menos que Ziraldo, grande escritor e cartunista, criador do Menino Maluquinho, dando autógrafos, obvio, a quem comprou o seu lançamento “O Namorado da Fada”. O simpático senhor (a quem já confundi várias vezes com Rolando Boldrin), ora falava com seus fãs (ás vezes, não sei por que, ele fechava a cara, e ficava tão sério que até me dava medo), ora acenava para os fotógrafos anônimos de plantão. E eu, sem perda de tempo, peguei o meu celular, e dali em diante, como todo mundo, me tornei um paparazo, que se matara no meio daquela multidão de todas as idades, sexo e cores e suas câmeras, de celulares com câmera VGA a câmeras ultra profissionais com mega definição. Todo mundo lá, alguns talvez nem sabendo muito sobre ele, mas ali, frente a frente com o cara e querendo registrar o momento.

Depois, continuei andando pelos estandes. Em alguns cantos, um espaço com bancos, chamado Ponto de Encontro. Haviam vários idosos neles, com ar de “sou aposentado e agora só to curtindo a vida”, e tinha muita coisa para criança também, entre elas, uma apresentação do Julio do Cocoricó (Tv Cultura), e outros bonecos de desenhos que o meu sobrinho de 5 anos saberia explicar melhor do que eu, um grupo teatral contando de maneira bem humorada a situação atual do mercado editorial brasileiro e seus problemas. Havia também um outro grupo cantando musicas folclóricas, salas com escritores contando histórias para crianças – e de gaiato – para alguns marmanjos, como eu...

Daí fui direto as compras. Comprei um kit de atividades para o meu sobrinho, alguns livrinhos de reflexões para dar de presente a alguns amigos (apenas 1,00!), um gibi da Mônica (se não me engano o 70º da minha coleção, iniciada em 1994 – apesar de estar a mais de dois anos sem comprar), e dois livros do meu escritor preferido atualmente, Luis Fernando Veríssimo: “Mais Comédias para se Ler na Escola”, e “O Mundo É Bárbaro e o que nós temos a ver com isso”, cada um com um generoso desconto de R$ 7,00.

E mais tarde, depois de tirar mais algumas fotos e de olhar mais editoras, vi mais uma vez uma muvuca de pessoas e câmeras no estande da editora Panini. Corri para ver. Não acreditei. Era um dos meus ídolos na infância, e que sempre quis conhecer desde que vim pela primeira vez à bienal, em 2002. Era Mauricio de Sousa, autografando seu novo lançamento, o “Turma da Mônica Jovem”, dentro de uma cabine com dois seguranças na porta para conter a afobação das pessoas, e lá dentro, o autor numa mesa conversando com algumas crianças que estavam lá, alguns irritantes repórteres, que pareciam de propósito tampar com o corpo a visão de quem estava lá fora para tirar fotos e mais fotos, que não acabavam nunca. Mas não teve problema, onde consegui enxergar, registrei.

E por fim, depois de olhar no relógio e ver que já era quase sete da noite, resolvi ir embora, voltando a pegar outra fila imensa para embarcar no confortável ônibus até o Tietê.

Na sexta dia 22, apenas para acompanhar uma amiga, fui de novo para lá, só que de manha por causa do meu trabalho. Estava bacana assim como no domingo, a diferença é que nesse dia estava um mundaréu de crianças e suas “tias” da escola, pintando e bordando em tudo que viam pela frente. Mas foi legal também.

O engraçado é que, nessa história toda, eu fico pensando como um meio pode influenciar os nossos hábitos. Há pelo menos um ano eu não pegava um livro para conseguir lê-lo até o final, e bastou novamente ir na Bienal, encher um pouco a sacola, para voltar a ter o hábito saudável da leitura, e conseguir ler um dos livros em apenas 4 dias.

Bem, é isso, apenas queria registrar esses dias que fui lá, e que foram muito bacanas, e diferentes, porque das outras vezes apenas tinha ido comprar livros. Nesse ano, voltei para casa com um bom registro de autores que gosto e que nunca tinha visto pessoalmente, e com mais uma vez a certeza de que como vale a pena deixar o seu domingo de folga para descansar em casa do stress da semana, se dedicando a atividades que realmente valem a pena, e que precisam ser mais incentivadas no Brasil.

FOTOS: Danilo Moreira

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Brasil, Mostra a Tua Cara

Cena do filme "Turistas"

No dia 06 de agosto passara na Tv Record o polêmico e criticado filme “Turistas”, do diretor John Stockwell. O filme conta a história de um grupo de mochileiros norte-americanos que vêm passar as férias no Brasil, porém no meio do caminho sofrem um acidente, indo parar numa praia paradisíaca. Daí por diante, encontram de tudo: mato, paisagens paradisíacas, miséria, samba, caipirinha, drogas, mulheres prostitutas, bandidos e tráfico de órgãos. Não é de se estranhar a pesada critica da imprensa americana sobre esse filme cheio de estereótipos, e do protesto que surgiu na época (2006) para boicotar esse filme no Brasil.

Não é a primeira vez que figuras estereotipadas do país caem na polêmica pelo mundo. Em 2002, um episodio de “Os Simpsons” onde a família veio passar as férias no Rio fez o então presidente FHC exigir desculpas por parte dos produtores, já que retrataram o Rio de Janeiro como uma cidade selvagem, cheio de macacos, cobras, prostitutas, bissexuais e bandidos nas ruas, e tendo a Amazônia como vizinha!

Há também outros filmes como “Feitiço no Rio”, de 1984, “Amazônia em Chamas”, de 1994, e outros, geralmente ou de ação ou terror, que também utilizam esses clichês de um “país tropical onde tudo pode”. Felizmente são filmes que mais causam polemica do que propriamente o sucesso.

Porém, apesar de todos serem pura ficção, nós sabemos dos reflexos que isso representa depois.

Após terminar o filme, passou aquele programa “Fala Que Eu Te Escuto”, mostrando as humilhações, o descaso e o preconceito com que os brasileiros são tratados lá fora simplesmente por serem brasileiros. Turistas nos conformes da lei do país de destino, principalmente a Espanha, de repente, são confinados numa sala por horas, sem comida nem bebida, e sem qualquer explicação são deportados de volta e relatando casos de humilhação e desrespeito por parte da segurança dos aeroportos de lá.

Diante disso tudo e desses filmes, percebe-se claramente a imagem negativa que temos lá fora. Na caso das deportações, os paises europeus e os EUA podem utilizar o argumento de combate a imigração ilegal e ao terrorismo, o que até se entende, mas como explica então, segundo o próprio “Fala”, o número de brasileiros deportados até o primeiro semestre de 2008 ter sido superior a estrangeiros de países islâmicos que concentram grupos terroristas?

É claro, não sou inocente a ponto de dizer que no Brasil não tenha miséria, violência, prostituição, drogas, comércio ilegal de órgãos e outros podres que os noticiários daqui não cansam de escancarar, não só por aqui, mas principalmente no exterior. O problema é que se cria uma imagem de que no Brasil tenha somente isso, e não que temos cidades com qualidade de vida comparado a cidades de Primeiro Mundo, que a maioria do povo é honesto e trabalhador e que somos um país de múltiplas culturas.

É claro que, sem sombra de dúvida, nós deveríamos nos envergonhar por deixar nossos problemas além de não serem resolvidos, serem escancarados dessa forma a ponto de se tornar nosso cartão de visita perante os olhos de muitos estrangeiros, e pior, dizer como eu já ouvi: “Ah, mas é verdade, só tem isso mesmo”. Isso é uma forma de conformismo, e que pode ter certeza, contribui para essa situação piorar ainda mais, prejudicando a nossa imagem lá fora, e também o turismo por aqui.

Nesse caso, o Brasil precisa mesmo mostrar mais a sua cara, ou pelo menos, que ela não é tão feia assim.


FOTO: http://www.cranik.com/images/turistas.jpg

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Delírio - Um Barulho...


Tenho uma linha reta cotidiana a seguir

RATÁTÁTÁTÁ

Tenho uma vida reta cotidiana a seguir

RATÁTÁTÁTÁ

Tenho um trabalho cotidiano para cumprir

RATÁTÁTÁTÁ

Tenho sonhos cotidianos a perseguir

RATÁTÁTÁTÁ

Tenho que acordar cedo

RATÁTÁTÁTÁ

Tenho que lavar o rosto

RATÁTÁTÁTÁ

Tenho que tomar café

RATÁTÁTÁTÁ

Fui tomar e liguei a TV

RATÁTÁTÁTÁ

Fiquei da sabendo da morte da menina por bala perdida

RATÁTÁTÁTÁ

Da 6º chacina do ano na Grande SP

RATÁTÁTÁTÁ

Do assalto a banco que terminou com 6 feridos e um morto

RATÁTÁTÁTÁ

Da ação da PM num morro do Rio onde uma criança de 12 anos foi morta por bala perdida

RATÁTÁTÁTÁ

Saio da TV e vou trabalhar

RATÁTÁTÁTÁ

Fico sabendo que mataram o Macarrão

RATÁTÁTÁTÁ

Um moleque que vi crescer aqui na rua

RATÁTÁTÁTÁ

Mas que com o tempo foi pro caminho errado

RATÁTÁTÁTÁ

Também fico sabendo que mataram o Cesinha

RATÁTÁTÁTÁ

Um menino direito mas que estava no local errado e na hora errada

RATÁTÁTÁTÁ

E ainda fora morto por um policial numa blitz

RATÁTÁTÁTÁ

E vou seguindo meu caminho até o trabalho

RATÁTÁTÁTÁ

Com uma sensação estranha na cabeça

RATÁTÁTÁTÁ

De que tudo está fora do controle

RATÁTÁTÁTÁ

De que não posso mais confiar em ninguém

RATÁTÁTÁTÁ

De que preciso proteger a minha vida

RATÁTÁTÁTÁ

Que preciso proteger a da minha família

RATÁTÁTÁTÁ

Que preciso fazer alguma coisa

RATÁTÁTÁTÁ

Porque todo dia matam gente onde eu moro

RATÁTÁTÁTÁ

Todo dia matam gente inocente

RATÁTÁTÁTÁ

Todo dia roubam gente inocente

RATÁTÁTÁTÁ

Todo dia traumatizam gente inocente

RATÁTÁTÁTÁ

E nesse violência cotidiana a perseguir a minha vida

RATÁTÁTÁTÁ

A cada momento que passa me vejo obrigado a conviver com ela

RATÁTÁTÁTÁ

Seja aonde for

RATÁTÁTÁTÁ

Seja aonde escrever

RATÁTÁTÁTÁ

Seja aonde estiver

RATÁTÁTÁTÁ

Mas enquanto for possível falar

RATÁTÁTÁTÁ

E esses tiros não sufocarem as palavras de quem tem algo a dizer

RATÁTÁTÁTÁ

Vamos cobrar para que algo seja feito

RATÁTÁTÁTÁ

Ou que pelo menos esse RATÁTÁTÁTÁ

RATÁTÁTÁTÁ

Continue a incomodar os seus ouvidos

RATÁTÁTÁTÁ

E os seus olhos

RATÁTÁTÁTÁ

E não acabe fazendo parte de você.

RATÁTÁTÁTÁ

RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ

RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ

RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ


RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ RATÁTÁTÁTÁ

PUM
.
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.
.
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FOTO: http://img180.imageshack.us/img180/5112/baianola6.jpg

domingo, 27 de julho de 2008

Ô Aperto!!!


Houve, num certo dia, num programa que agora não me recordo ao certo, uma matéria com nada mais nada menos que Silvio Santos em sua luxuosa mansão em Miami, naquela época em que estourou o boato (que ele fez questão de inventar) que estava com pouco tempo de vida.

O repórter perguntou se ele costumava vir a Miami e qual a diferença de São Paulo e lá.
Silvio respondeu:

- (...) São Paulo hoje está muito apertada, com gente em tudo que é canto, carros em tudo que é canto (...)

Se naquela época, cerca de sete anos atrás, ele já via São Paulo assim, que dirá hoje, se for perguntado novamente.

São Paulo é uma megalópole que já ultrapassou a marca dos dez milhões de habitantes, e aliado À isso conta com uma frota de quase seis milhões de veículos. Cerca de três milhões de pessoas utilizam o ônibus como transporte. São também já tem a segunda maior frota de helicópteros do planeta, e possui o aeroporto mais movimentado do país, Congonhas.

Diante desses números enoormes e entre outros que não vale a pena citar, não é de se espantar o recorde de congestionamentos que mês a mês se superam, não importa o horário. Fora a lotação dos trens, ônibus e metro, que explicitamente já não comporta mais o número de passageiros do dia-a-dia.

São Paulo também é a capital das filas. Fila para pagar as contas, fila para passar no caixa do supermercado, fila para carregar o bilhete de ônibus, fila para entrar no cinema, fila para andar na Rua 25 de Março, fila para subir no ônibus, no metrô, nos trens; fila para almoçar, fila para entrar num estacionamento, fila para sair dele, fila para passar no médico, para marcar consulta, e até para atravessar um cruzamento.

E agora, analisando tudo isso, me pergunto, se São Paulo tem cerca de 100 Km2, e grande ao ponto de um bairro do extremo sul ser 60 Km distante do Centro, porque ainda sem ela está tão apertado?

Isso é fruto de um processo de crescimento e ocupação desordenado que durante décadas atropelou as reservas naturais e que através de uma falta de planejamento urbano resultou em avenidas principais apertadas, um amontoado de ruas e casas mal distribuídas e todo um contingente populacional que inchou a cidade, e a administração municipal não acompanhou este ritmo de crescimento proporcionando estrutura e qualidade de vida para essa população.

Eis o resultado: transito caótico, previsão de que este trânsito caótico entre em colapso no prazo de cinco anos, filas para todos os cantos, desemprego, falta de opções de lazer nas periferias (obrigando os moradores a se deslocarem para outros cantos e assim gerando mais trânsito), hospitais e postos de saúde lotados, e tudo mais que uma metrópole possui. Vale ressaltar que é um problema que ocorre em quase todas as grandes cidades pelo mundo, especialmente as de paises em desenvolvimento como o Brasil.

E agora leitor, com os olhos abertos e fixados para o futuro, eu pergunto, aonde isso vai parar?


FOTO:
http://www.eternatpm.com/wp-content/uploads/2008/05/metro_lotado.jpg

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O Que Ficou Pelo Caminho


Queria encontrar comigo mesmo
Observar os momentos que acimentaram os meus pilares
Voltar a admirar as virtudes cujas luzes me tornaram observado
Correr descalço pelo asfalto com olhos curiosos à procura do meu horizonte
Sentir o vento alisar a pele cuja adolescência deixava os seus carimbos.

Queria encontrar comigo mesmo
Assistir às jóias raras que antes eram tão comuns aos meus dias
Voltar a demarcar os territórios que pretendia percorrer
Olhar as formas didáticas com que impus o meu eu
Olhar o amor como um sentimento virgem a ser explorado.

Queria encontrar comigo mesmo
Assistir os tapas que me deram enquanto eu mesmo amarrei as minhas mãos
Observar as vezes que as minhas costas viraram porta bagagem de gente que não merecia
Rever as vezes que atiraram o meu ego para um universo distante e sombrio
Perceber as vezes que joguei meu eu para um rio afastado de todos os outros.

Queria encontrar comigo mesmo
Rever as bandeiras que finquei neste chão que parecia ser mais claro
Olhar com olhos de menino as bandeiras ainda a serem conquistadas
Visitar os arquivos complexos dos meus crimes e danos morais
Relembrar as pessoas que hoje estão em outros planos.

Queria encontrar comigo mesmo
Sem querer corrigir os erros de grafia do meu livro vital
Sem querer atirar na coluna para desmoronar as fortalezas que me esmagaram
Apenas queria olhar nos meus olhos passados
Pedir-me um colo a amparar todo o meu corpo maior que eu
Perguntar-me afinal, o que foi que eu perdi comigo
Já que sinto meus olhos moldados com sombras e realismo venenoso.

Simplesmente, há algo que você, rapaz que eu era, construiu na sua vida
Mas na passagem do tempo eu acabei me esquecendo com você
Não sei se poderás me devolver
Mas pelo menos tenha compaixão de mim
E me deixe saber o que é.

O algo que ficou pelo caminho...

FOTO: http://ncoisasparapensar.blogspot.com/2007/11/recto-recto-recto.html

Selo Esse Blog É Consciente

Hoje de manhã recebi do grande Stanley do Antologia Racional o selo Esse Blog É Consciente, que já diz tudo. São para blogs que realmente tem o que mostrar, e principalmente, o que dizer.

E agora, orgulhosamente, os meus indicados:


Para os indicados, o link do selo está na coluna ao lado.

E mais uma vez, obrigado, muito obrigado.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Uma Tinta Descascada


Abriu a porta do quarto de maneira devagar. Estava cansado. Seus olhos estavam estranhos, como quem olhava para um ponto fixo no horizonte.

Sentou-se em sua cama. Observou o seu quarto. Um pôster mofado do Queen, um quadro com uma paisagem marítima, algumas correntes penduradas e paredes rachadas com várias marcas de tinta descascada.

Era estranho. De repente, o rapaz começou a olhar para os objetos à sua volta. Tudo largado, empoeirado, amontoado. Viu seu quarto num completo estado de decadência. E pensar que, anos atrás, ele já fora mais organizado.

E então, os olhos estranhos do rapaz passaram a olhar para a janela, ainda aberta mesmo já sendo onze da noite. percebeu o quanto sua rua havia mudado. Tinha até uma arvore perto do portão do seu Mario que agora estava cortada. Quando haviam a cortado? Ele já brincara tantas vezes naquela arvores quando moleque... Percebeu também quem algumas casas estavam diferentes, e olhando bem, tinha uma que nem existia mais. Era só entulho! Aquela casa era a mais antiga da rua, e a mais bonita também, com sua fachada rica em detalhes típicos de casa antiga.

Percebeu também a ausência de alguns vizinhos. O Luis que vivia jogando bola até as duas da manha, a Marina, que vira e mexe aparecia vendendo nas casas os seus produtos da Avon e bijouterias, o Cadu, que vivia dizendo que ia ser policial quando crescesse, onde estavam todos? Será que ainda moravam por ali?

Resolveu fechar a janela já que estava tarde. Era hora de tomar um bom banho e ir dormir.

Ao virar-se em direção a porta, o rapaz se deparou com seu espelho. Parou. Passou a se observar. Há tempos que ele usava a mesma blusa, verde desbotada e batida. Aquela calça jeans também já estava bem velha. E seu tênis então? O mesmo estilo, sempre. Seu cabelo também estava grande. Precisava dar uma aparada. Nossa, e quanto tempo que ele não passava um gel? Tinha gel ainda, estaria vencido?

Estava mais magro, abatido. Nunca tinha reparado: seu rosto estava mais fundo, assim como a região do pescoço. Tirou a camiseta. Estava mesmo mais magro.

Em seguida, tirou o restante da roupa, foi tomar banho. Ao voltar, abriu seu guarda roupa. Junto às suas camisetas havia dois livros, um de atualidades e o outro um guia de profissões. Ambos datavam de 2004, ou seja, já estavam ali há quase 4 anos. Nem lembrava mais deles. Isso porque durante um tempo estes foram as suas bíblias, mas que no fim, não deu em nada. Lembrou-se que seus antigos colegas de escola já estavam cursando superior, enquanto ele ainda estava ali, apenas trabalhando na sua função de caixa numa rede de fast-foods.

Se vestiu, arrumou sua cama, apagou a luz. Deitou-se, ainda bastante pensativo. Era engraçado porque até naquele dia de manha ele era a mesma pessoa, mas bastou encontrar um antigo amor, casada, formada em administração, e um grande amigo da escola que não fazia nada, repetiu várias vezes de ano, e agora estava cursando Economia na USP, que o rapaz abrira os olhos, e passou a enxergar as coisas como elas realmente estavam.

Viu sua vida, simplesmente, se tornar uma tinta descascada, assim como as paredes do seu quarto.

E concluiu: era hora de pintar um novo quadro.

Na vida todas as coisas mudam. A diferença é que, para quem pára no tempo, a mudança é a sua própria degradação.


FOTO: http://intensafenix.blogspot.com/2007/10/transio.html

domingo, 13 de julho de 2008

O Instinto de Sobrevivência


“O empresário Pedro Ivo de Torres Souza, 21 anos, que matou um de seus seqüestradores e fugiu de seu cativeiro na cidade de Americana, interior de São Paulo, afirmou em entrevista ao Fantástico que não repetiria o ato e que não aconselha ninguém a tomá-lo como exemplo.(...)”

Fonte: http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI2908161-EI5030,00.html

É engraçado como de uma hora para outra o ser humano que habitualmente costuma ser racional e civilizado se torna um animal irracional e seguidor dos seus próprios instintos, especialmente o de sobrevivência, podendo até se tornar um assassino.

A atitude deste jovem empresário seqüestrado é a prova de como há momentos em nossa vida que a situação parece nos empurrar para deixar a nossa civilidade de lado, e a tomar certas atitudes aos nossos olhos até condenáveis, mas que num momento de desespero, parecem ser a única saída.

A violência urbana é a prova disso. Pessoas comuns e que normalmente são inofensivas e de bom coração se vêem humilhadas na mão de assaltantes e passando por situações até desumanas. Obvio que, uma hora, baterá um sentimento de que você precisa se defender daquilo. E dependendo do momento, ele pode explodir antes mesmo que possa controlá-lo.

Mas é aí que se cria um paradoxo. Há limites para se aceitar certas atitudes como a do empresário, ou tudo que se faz na tentativa de se defender e sobreviver mediante uma situação extrema é válido?

Por exemplo, numa região onde a fome é alta, chega algum caminhão com mantimentos, o “normal” e aparecer uma aglomeração de famílias em busca daquela comida. Mas como não há para todos, a tendência é haver uma disputa para conseguir a maior quantidade, nem que se precise atropelar quem estiver na frente ou puxa-lo para fora do seu caminho. E nessas horas dane-se quem seja, se é criança, mulher, idoso, é a sobrevivência que está em jogo. Mas e a questão do respeito ao próximo, e a noção de organização, de saber dividir, de coletividade, onde ficaram?

É apenas um exemplo de que num momento desses, tudo isso fica para trás, mas também fica os prejudicados pelo caminho.

No caso desse empresário é um pouco diferente. Ele foi seqüestrado, ele matou aquele que poderia ter lhe matado. Chamou a atenção da mídia por esse fato. Muitos o aplaudiram porque acham que “bandido bom é bandido morto”.

Mas no dia a dia, o instinto acaba sempre aparecendo. Há um sentimento coletivo de que ninguém pensa em ninguém, por isso, “também vou pensar só em mim”. Há também um descrédito com a justiça (que também dá MUITOS motivos), por isso, muitos acabam por achar que fazer justiça é a melhor solução, mesmo que essa só exista na cabeça dele, e o quadro na verdade seja outro.

Mas, dependendo da situação, e é esse o problema, reagir com o instinto pode muitas vezes voltar contra si mesmo, ou na própria morte, ou no próprio remorso.

Uma coisa é certa nesse caso do empresário: uma situação de desespero é capaz de derrubar todos os conceitos de uma pessoa, e a tornar um ser movido à sua própria força, e muitas vezes, à sua própria fúria.

Mas, é tão arriscado, que no fim das contas, poderá piorar a situação ainda mais.

Mas sendo sincero, não sei o que faria se estivesse no lugar dele. É algo que só mesmo quem viveu pode saber.

E você, já pensou nisso?


FOTO: http://www.estadao.com.br/fotos/machado292.jpg

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Sessão Nostalgia 3 - Mais comerciais antigos


Olá leitor(a).

Bem que eu tentei, mas parece que a horta das minhas idéias andou secando nesse fim de semana. Por isso, resolvi postar mais uma vez algumas pérolas que achei no youtube.

São comerciais antigos, a maior parte deles dos anos 90. Algumas empresas nem existem mais, como o Banco Bamerindus, mas alguns de seus slogans e bordões continuam vivos na memória da gente e vira e mexe acabamos pronunciando por aí.

Bem, é isso. Divirta-se, e tenha uma ótima semana.


Mesbla (com Tv Colosso) - 1994




Philco (Formiguinhas) - 1997




Bamerindus (Forró) - anos 90




Skoll (Velhinhas) - 2000



FOTO:
http://www.fernandopaes.ppg.br/blog/wp-content/uploads/2008/05/poupanca_bamerindus.jpg

segunda-feira, 30 de junho de 2008

O Homem do Sonho


Hora de dormir. Finalmente! Depois de um dia exaustivo, repleto de pessoas mau humoradas, de chefe mau humorado, de trabalho intenso no escritório, de congestionamentos por todos os lados, discussões, barulhos de automóveis, furadeiras, tratores, buzinas, ar-condicionado, anúncios nos alto-falantes, de sirenes de carros de polícia, bombeiros, ambulâncias... e mais uma infinidade de coisas que só de lembrar já lhe davam irritação.

Alfredo era o herói, enfrentava esse caos todos os dias. Estava exausto, cansado a ponto de fechar os olhos. Chegou em casa, conversou sério com sua esposa sobre o que havia acontecido naquele dia, tomou um bom banho para lavar a alma, jantou, assistiu um pouco de televisão e recolheu-se na cama. Era só relaxar, esquecer o resto do mundo, e entrar no mundo confuso dos sonhos.

- Boa noite amor! Não fique assim não. O importante é que já passou. – disse Helen, sua esposa.

- Eu sei. Durma com os anjos! Eu também vou procurar descansar. – murmurou ele, dando-lhe um beijo carinhoso na boca.

Dormiram. Que milagre o vizinho não ligara o som do carro naquela hora da noite! Era uma benção! Então, já que a noite estava silenciosa, Alfredo teve a certeza: aquela noite seria a ideal para recarregar de verdade todas as suas energias gastadas durante o seu dia. E mais do que nos outros, naquele dia ele realmente estava precisando descansar.

“Como é bom estar na minha cama... sossegado... no silêncio... com a minha mulher...zZzZzZ”

Porém, de repente, ouviu-se um grito vindo do quarto ao lado.

- Não, não, não me machuque, não machuque o meu pai, por favor! Não! Socorro, socorro!

Era Lucas, seu filho, quatro anos, que mais uma vez estava tendo pesadelos.

Pai e mãe acordaram. Alfredo se levantou, pediu para Helen dormir, que ele vai ver o que houve com Lucas. O menino continuava gritando. Alfredo se apressou até o quarto. Chegando lá, viu o garoto desinquieto, virando de um lado para o outro da cama. Estava tendo um pesadelo.

- Psiu, calma filho! O papai ta aqui! Isso, calma, já passou, já passou...

O menino acordara assustado. Que pesadelo horrível! Abraçara o pai com toda força, como se aquele homem fosse o herói, o que acabaria com o vilão do pesadelo. Alfredo o abraçou, o acalmou, esperou que aquele pobre coraçãozinho recuperasse os batimentos normais.

- Pai, ele era horrível, ele queria eu, ele queria o senhor...

Pobrezinho, sonhando com o velho e conhecido bicho papão...

- Filho, o bicho papão não faz mal a ninguém, é só um pesadelo!

- Bicho papão? Não pai, bicho papão não tem arma...

“Arma? Ele sonhou com arma?”

- ...era um homem feio, que gritava, berrava, falava um monte de palavrão!

- E o que ele fez, filho?

- Ele veio pro nosso carro e gritou com o senhor. Pediu dinheiro e o senhor disse que não tinha. Daí ele apontou aquela coisa na sua cabeça e depois apontou pa minha. Eu gritava para ele não matar o senhor!

Alfredo ficou estático.

- Puxa filho! Que sonho horrível! Vamos esquecer isso. Vamos lembrar só dos sonhos bons certo?

- Tudo bem pai! Mas não sei se vou conseguir dormir de novo! Posso dormir com o senhor?

- Claro meu filho! O papai dorme abraçado com você para espantar os pesadelos!

- Oba!

- Vem comigo. Cuidado para não acordar a mamãe.

E caminhavam pelo corredor, até que Lucas pára.

- O que foi? Por quê parou?

- Pai, aquele homem não existe de verdade, né?

Alfredo ficou calado. O menino já estava tão assustado com o homem! Temia que se falasse a verdade, ele não conseguiria mais dormir, e tirar isso da cabeça também.

- Não filho, é coisa da sua imaginação. Vamos dormir, já é muito tarde, ok?

O menino sorriu. Pelo menos essa noite ele não iria ter problemas para dormir.

Subiu na cama com ele. Ele no meio, e Alfredo na ponta. Embrulhou-se com o lençol. Abraçou Lucas e deu-lhe um beijo na testa. E então, sob a proteção calorosa dos braços do pai, o menino fechou os olhos e pegou rapidamente no sono. Já Alfredo, mesmo com todo o silêncio que agora pairava no quarto, percebeu que seria uma noite muito difícil de dormir...

Alfredo sabia, e muito bem, que aquele homem existia. Tinha o visto hoje de manhã.

São Paulo, agosto de 2002

FOTO: http://alerta.blogspot.com/2007/09/ultimamente-o-nmero-de-assaltos-tem.html

domingo, 22 de junho de 2008

Os Jogos Violentos


No domingo dia 25-05 vi uma reportagem no Fantástico sobre alguns jogos de violência que tiveram o seu comercio proibido no Brasil. Estão entre eles, Counter-Strike e Everquest.

O motivo é que, segundo o Ministério Público, eles incentivam o uso da violência podendo gerar até uma série de deturpações psicológicas para o jogador, induzindo-o inclusive a cometer crimes. Normalmente são jogos onde o jogador tem que matar para ganhar pontos, e geralmente os modos utilizados vão desde a armas potentes até ao uso da própria força, transformando o alvo em puro sangue, carne viva e muitas vezes mutilada. E quanto mais se mata, melhor, mais pontos se acumula.

Não é de hoje que jogos violentos são motivo de polêmica na sociedade. Lembro-me quando quiseram proibir a circulação do inesquecível Mortal Kombat, justamente sob o mesmo argumento de incentivo à violência. E assim sempre foi até os dias de hoje, onde os jogos são cada vez mais sofisticados com os seus gráficos bem elaborados e trilhas sonoras que nos fazem até gravá-las no MP4 para ir ouvindo no caminho do trabalho, e alguns tão próximos da realidade que chega a nos deixar de boca aberta.

Desde pequeno eu jogo esses jogos violentos, e desde pequeno conheço pessoas que jogam e adoram esses jogos violentos. E nem por isso eu saio por ai matando todo mundo e nem conheço, pelo menos até agora, alguma pessoa que tenha se influenciado dessa forma e praticado algo do tipo.

Há jogos que eu até concordo que devem ser banidos como aqueles que incentivam o bullyng (agressão psicológica violenta, tipo um aluno na escola que sempre é alvo de fortes humilhações), o racismo e qualquer tipo de preconceito.

Mas cá entre nós, se um pai adora um jogo violento e joga na frente do filho, obvio que ele vai se interessar também. Se ele mora num bairro violento, se assiste a filmes de ação violentos, se toda hora que liga o jornal é um caso de morte aqui, de homicídio ali, de atentado terrorista acolá, ou pior, se há casos de violência dentro de casa, será que proibir certos jogos faria alguma diferença na vida dele?

Não adianta, não se cortará a violência dessa forma. O que precisa se fazer entender é que jogo é jogo, vida real é vida real. Às vezes é bom jogar algo violento apenas para descarregar o stress do dia a dia, e ali sim é o lugar, afinal, você tem na cabeça que aquilo tudo é só um jogo, que nenhum sangue derramado é de verdade e que qualquer boneco que tenha morrido decepado, basta sair e entrar no jogo que ele estará lá novamente, e você não estará fazendo mal à ninguém de carne e osso, estará apenas se divertindo.

A classificação indicativa também é uma ótima maneira até dos pais (os primeiros responsáveis pelo acesso do filho ou não a eles) para que possam controlar e orientar melhor o que os seus filhos andam jogando.

Acho que as autoridades deveriam abrir mais a cabeça e utilizar métodos mais eficazes. Podem ter proibido esses jogos, mas pode ter certeza de que eles continuarão sendo vendidos por aí, e jogados livremente.

E nós sabemos que quando se proíbem coisas assim, aí é que ela vira o centro das atenções, ainda mais quando sua circulação não é efetivamente controlada.

Não precisa pensar muito sobre o porque desses jogos com histórias “realistas” fazem tanto sucesso. Diferente daqueles jogos com monstros e outras ficções, eles simplesmente retratam uma realidade que já existe há muito tempo, quando sequer o Atari existia.

Sendo assim, se a Justiça acha que proibir a venda desses jogos vai mudar alguma coisa, então que aguardem a resposta do tempo, sentados em suas cadeiras ao invés de se preocupar com coisas mais importantes.


FOTO: http://neuralgames.files.wordpress.com/2007/10/violent-games-hb3004-bill.jpg

Em Linhas... Retrô


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quarta-feira, 18 de junho de 2008

Eu Sinto

Eu sinto...

Haverá uma certa lua cheia
Que me jogarei no chão junto com meus fantasmas
Todos eles irão rir de mim no inicio
Mas ao ver que estarei me jogando de verdade
Todos eles irão se desesperar
Começarão a se debater a ponto de querer me segurar
Mostrarão todo o meu passado
Repetirão as palavras que já tacaram em mim
Repetirão as vezes que não respondi à altura
E todas as vezes que eu errei
Mas ao perceberem que é um caminho sem volta
Ai sim é que irão mostrar os meus feitos
Mostrar que os venenos que recebi fora obra deles
Que as luzes nunca saíram de mim
Que as estações continuam as mesmas
Mas foram eles os culpados pelo meu tempo fechado
E por todas as bíblias dos meus conceitos que escrevi
Agora, meus caros, corram atrás do prejuízo
Porque no dia em que meu eu se transformar em cacos
Vocês irão juntos comigo para o nada
E então, por mais que queiram se redimir e abrir de verdade os meus olhos
Eles já estarão usando óculos escuros
E daí por diante, serei uma metralhadora descontrolada
Cujo estrago provocado será tão grande
Que se abrirá uma fenda a cortar as limites entre a lucidez e a loucura
E acabarei sendo útil apenas para as noticias de jornal.

Eu sinto... muito.

FOTO: http://blog.br.inter.net/blog/guerreirodaluz/blog.br.inter.net/images/espinhos.jpg

Em Linhas... Retrô:


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sábado, 14 de junho de 2008

Delírio - Ser e Ter


Ter um carro importado
Ter um tênis da moda
Ter um nome importante
Ter um curso superior
Ter um pai advogado
Ter um filho celebridade
Ter um corpo bonito
Ter um bom emprego
Ter um rosto bonito
Ter um cargo importante
Ter uma bela mansão

Ser bom
Ser amigo
Ser honesto
Ser digno
Ser trabalhador
Ser sorridente
Ser otimista
Ser altruísta
Ser ponderado
Ser precavido
Ser correto

Ter cor
Ter sabor
Ter abraço
Ter beijo
Ter luz
Ter um abraço
Ter um ombro
Ter um laço
Ter um passo
Ter um sonho

Ser rico
Ser famoso
Ser ambicioso
Ser trapaceiro
Ser gostoso
Ser ligeiro
Ser durão
Ser importante
Ser requisitado
Ser superior
Ser esperto

Ter sonhos
Ser sonhos

Ter coração
Ser coração

Ter muito
Ser muito

Ter tudo
Ser tudo

Ter nada
Ser nada

Nada ser e tudo ter
ou
Tudo ser e nada ter?

Ser vale mais do que ter


Mas a errante certeza daqueles que olham o mundo com olhos feitos pelas mãos do seu próprio veneno:

Ter vale mais do que ser

Mas olhando certo e com lentes de contato bem iluminadas:

Ser humilde vale mais do que ter ganância.
Ter educação vale mais do que ser mal-educado.
Ser lutador vale mais do que ter tudo na mão,
E ter sonhos vale mais do que ser acomodado.

Ter que ser rico
Ter que ser famoso
Ter que ser forte
Ter que ser formado
Ter que ser esperto
Ter que ser casado
Ter que ser livre
Ter que ser trabalhador
Ter que ser honesto
Ter que ser responsável

Não importa o que tiver que ser
Sendo importante tê-lo na sua vida
É o que vale a mais a pena ter.
Cada sonho, cada gesto,
É só ser esperto e ter a certeza:
O que tiver que ter, terá
E o que tiver que ser, será.


Foto: http://atuleirus.weblog.com.pt/arquivo/formiga.jpg

Em Linhas... Retrô:

Se você não leu, clique no link e conheça, e pra você que já leu, leia e compare com o que você comentou há um ano atrás. Será que hoje dirias o mesmo? rs

domingo, 8 de junho de 2008

Em Linhas... 1 ano!!!

Há algum tempo eu já queria postar esse texto, mas os imprevistos não deixaram, me fazendo postar só hoje, mesmo quase dormindo no micro, devido a uma gripe que quer me pegar.

Na quinta-feira, dia 05, o "Em Linhas..." completou um ano de vida.

Ele é um resultado de um desejo que sempre tive em ter um espaço meu onde pudesse escrever, desabafar, soltar o meu veneno, criticar, contar e proporcionar a quem o visita entretenimento com conteúdo, ou que pelo menos, fosse algo aproveitável...rs

Peguei um terça-feira em que estava de folga para montar esse espaço. Montei o layout após ficar horas mexendo e remexendo (como todo bom virginiano, sou um perfeccionista a ponto de irritar a mim mesmo...rs), e por fim, terminei nomeando (também após tentar vários nomes). Ainda postei dois textos que faziam parte de um antigo blog que tinha mas não deu certo, chamado Toca das Letras. Os dois textos, um chamado “A Violência no Brasil... E Daí?”, e um pensamento chamado “A Fonte D’água”, foram o começo de uma demanda que já alcançou cerca de 77 postagens, contendo de tudo um pouco.

Mas vou ser sincero, o meu maior orgulho foi ter criado os Delírios, textos inspirados no Modernismo e em algumas músicas piradonas de “Os Mutantes”, que possuem uma maneira diferente (algumas vezes até agressiva) de expor um certo assunto. Você só não , como também o sentimento exposto ali.

Também postei alguns textos que já tinha escrito há algum tempo, como o conto “Tem Um Carro Me Seguindo”, de 2005, e o poema “Aprendendo com o Sofrimento”, escrito em 2000.

O blog também já apresentou temas de forma polêmica. O poema “Portugueis”, uma sátira ao nosso português errado de cada dia, foi um grande exemplo disso, onde teve até leitor criticando ferozmente comentário de outro leitor, e um debate praticamente político que rendeu...

Teve também os textos de caráter sombrio, postados na categoria “Tempestades”, refletindo as tempestades por que já passei nesse tempo.

E por fim, textos a la sessão nostalgia, como o “Sessão Nostalgia 1” e o “Sessão Nostalgia 2”, um com aberturas de desenhos famosos, outro com comerciais antigos. Teve também um chamado “60/2000”, que falava sobre esse clima de adoração de tudo do passado e ao mesmo tempo da subestimação de tudo que se refere á nossa década atual.

É claro que, ao ver esse blog hoje, percebi que a crítica é a sua principal vitamina, que dá sustento á tantas postagens e a tantos jeitos diferentes de escrever.

Acredito ter alcançado o meu objetivo nesse 1 ano: fazer dessas linhas um divã, não só meu, mas de você também leitor, que parou alguns de seus minutos para ler as abobrinhas e pirações desse rapaz que deseja ser um jornalista. Espero ter contribuído com o seu dia, ter tirado do fundo do seu coração algo que você queria dizer mas estava engasgado na garganta, ou apenas para matar a saudade de algo que fez parte da sua infância, ou treinar o seu espírito critico e consciente que rege os seus caminhos.

Não posso terminar esse texto sem agradecer a leitores que estão aqui desde o começo, como o grande mestre R Lima e seu “O AveSSo da Vida”. Sabes que as suas palavras, o seu incentivo, desde o outro blog, sempre me fizeram muito bem, e como eu já comentei até em uma postagem sua, o seus textos sempre foram referência para mim. Você também é um dos responsáveis por esse aniversário.

Também agradeço ao Diego Moreto, do blog de mesmo nome, que sempre que pode aparece por aqui, deixando seus comentários tão inteligentes.

Também agradeço a você, Pequena Gi do "Sede de Devaneios". Sei que sua vida anda muito corrida, mas também sempre que pode dá o ar de sua graça pelas postagens.

E, tentando me lembrar de todos, obrigado ao Vicente Freitas, a Fada, a Mila, ao Euzer, a Paloma, ao Amnésico, ao Soul Music, e a todos que também fazem parte dessa história.

E obrigado também por todos os selos e prêmios, todos que recebi de maneira inesperada, e coincidência ou não, quando me encontrava desmotivado com o blog.

A todos vocês, podem ter a certeza, terão o meu crédito sempre que eu puder, pois vocês todos são mestres no que fazem, cada um com o seu estilo, cada com o seu modo de pensar.

E por fim, agradeço de coração a você leitor dessa postagem, seja novo por aqui, seja já de casa, mas pode ter a certeza de que esse rapaz que ama a arte de escrever o faz com gosto e satisfação, e mesmo agradecendo todos os elogios e críticas, sabe que ainda tem muito o que aprender.

Mas, essas linhas não terminam por aqui...

Por isso, até a próxima postagem.

Tenha uma ótima semana.


FOTO: http://193.126.122.175/Newvision/portallizer/upload_img_conteudos/estrada_5_web.JPG

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O Papel é Mais Paciente que o Homem - Parte IV - Final

Peço novamente desculpas por estar postando só hoje. Ontem pareceu ser o dia dos imprevistos... mas tá aqui, o último capítulo, tá meio longo, mas eu garanto que ao ler você nem vai perceber que terminou, ou mesmo que perceba, não vai se arrepender...

Sala de reunião. Normalmente, quando a equipe era convocada para essas reuniões com seu Gomes, sempre para lhes dar algum sermão, pairava naquela sala um clima de “O Aprendiz” da Tv Record, bem naquele momento em que os participantes aguardam a entrada de Roberto Justus. Mas lá não, o clima estava tão descontraído, mas tão descontraído, que a reunião parecia mais uma confraternização. O motivo?

- Nossa, tangerina podre... KKKKKK.

- Eu sinceramente não queria ver a cara do seu Gomes hoje... Não vou conseguir me segurar quando ver a cara dele e aquele mania de ajeitar as calças...KKKKK

Era só o assunto. Finalmente, alguém falara palavras “sábias” e verdadeiras sobre seu Gomes. Marcelo apenas observava aquela cena, todos comentando do papel, todos comentando dele, todos fazendo fofoca sobre o ato de Marcelo, e principalmente, onde estaria o tal papel, já que Dona Maria, a faxineira, espalhou o papel suspeito que entregara a seu Gomes e a sua reação após recebê-lo.

- Nossa... Nunca pensei que causaria tanto nessa empresa com esse papel... – sussurrou a Afonso. – Acho que falei demais. Já tão inventando coisas que eu não escrevi. O que eu fiz cara... Devia ter tomado mais cuidado com aquele papel... Eu nem sei o que vou fazer quando o seu Gomes esfregar ele na minha cara aqui, na frente de todo mundo...

- Relaxa. Qualquer coisa a gente inventa que foi intriga de alguém, sei lá. Mas não fica assim não, a gente ainda não tem certeza se é mesmo o seu papel o não. Apesar que tudo indica que sim, né...

- Obrigado pelo ânimo...

E de repente, a maçaneta da porta foi brutalmente mexida. Silêncio. Por fim, ajeitando as calças, eis que surge seu Gomes, com a sua cara visivelmente cheia de olheiras, e também visivelmente furioso, com jeito de quem estava prestes e despejar coisas que estavam entaladas na sua garganta.

E com um sorriso irônico, soltou:

- Boa tarde.

- Boa tarde. – todos responderam, apreensivos.

- Muito bem... Acho que já perco demais o meu tempo falando com vocês, por isso, irei ser o mais sutil possível sobre o que vim tratar nessa reunião. Na verdade, de inicio, era sobre um assunto só, mas nessa tarde ocorreu um certo fato muito infeliz que acabou entrando na pauta, portanto, senhoras e senhores, iremos tratar sobre dois assuntos importantes.

Marcelo sentiu um frio a percorrer o seu corpo.

- Ontem o gerente geral me chamou a atenção para o comportamento da nossa equipe, coisas fúteis como questão do lixo, conversas altas no corredor, assuntos inapropriados para o ambiente de trabalho e até mesmo problemas no visual como barba por fazer, vestimentas não adequadas ao que diz as normas da empresa, e outros fatos que me deixaram profundamente abalado. Afinal, vocês acham que estão aonde? Na casa de vocês? Num zoológico? É muita falta de postura e profissionalismo por parte de vocês! Há muito tempo já deveriam ter seguido o meu exemplo como profissional há quase vinte e cinco anos aqui dentro...

E ficou, por longos trinta e seis minutos discutindo sozinho sobre questões de postura dentro do ambiente de trabalho, fazendo comparações infelizes e citando nomes de funcionários na frente dos outros, deixando-os constrangidos. Com o tempo, aquele sermão foi dando sono a muitos que estavam ali, mesmo aos berros roucos que seu Gomes emitia, entre uma arrumada de calça e uma arrumada de gravata que ele vivia fazendo. E Marcelo permanência trêmulo, distante, apenas pensando no próximo assunto...

- E é isso senhoras e senhores “não-colaboradores”. Agora, vamos ao segundo assunto que vim tratar hoje. Estava eu em minha sala, me preparando para o que ia dizer referente a essa reunião, quando a faxineira na qual sempre me esqueço o nome vem a minha sala e me entrega este papel aqui...

E tirou o papel do bolso, exibindo as suas costas, a parte com o logotipo da empresa, para todos os presentes naquela mesa. Todos olharam para Marcelo, que ficava cada vez mais pálido, e em seguida voltaram a olhar para seu Gomes, disfarçando ao máximo os seus sorrisos.

- Nunca pensei em vinte e cinco anos de empresa que viveria uma situação tão constrangedora como essa! Um absurdo! Uma vergonha! Uma...- e mordeu os lábios, resolvendo não dizer. – Alguém tem algo a dizer sobre isso?

Silêncio absoluto. Afonso, como bom amigo, deu discretos tapas nas costas de Marcelo, que á esta altura, já sentia o seu corpo todo tremendo.

- Ninguém? Então tá... já que ninguém se manifestou, então vou escolher a pessoa certa para falar sobre esse assunto, não é mesmo, senhor MARCELO?

Susto. Olhares sobre o dito cujo. Marcelo olhou para seu Gomes, que com seu olho que mais parecia uma arma mirando sobre ele, continuou:

- O que o senhor tem a me dizer sobre isso aqui?

Já era tarde. Pelo jeito, era mesmo o paepel. Não tinha mais como fugir. Falaria a verdade, ou inventaria a famosa desculpa, “armaram isso tudo pra mim”? Não, não ia colar. Seu Gomes pouco liga para os seus funcionários. Ele será mandado embora do mesmo jeito. O melhor era falar a verdade.

- Me desculpe seu Gomes, não foi a minha intenção denegrir a sua imagem. Na verdade estava chateado porque horas antes lhe apresentei um projeto de melhoria para o nosso setor e o senhor simplesmente se recusou a me ouvir, ainda dizendo que eu só era pago pra obedecer...

- Sei...

- E sinceramente, não acho justo dar esse tratamento a um funcionário que apenas quer dar o melhor de si, e o senhor pode ter certeza, essa sua postura arrogante colabora e muito para todas essas criticas negativas que o senhor mesmo acabou de citar aqui na reunião. Tome as providencias que o senhor preferir em relação a mim, mas eu não me arrependo de ter escrito esse papel desacatando o senhor. Foi apenas uma maneira que encontrei de descarregar aquilo tudo que estava entalado na minha garganta referente ao seu modo arrogante e repressor com quem tem tratado a mim e a todos presentes aqui na sala. O senhor pode ter o tempo que for aqui dentro, mas uma coisa, que, sendo sincero, o senhor ainda não aprendeu é que funcionário não deve só ser pago para obedecer, e sim para colaborar com a equipe dando o melhor de si. É isso.

Silêncio. Olhares assustados e fixados nos dois. Seu Gomes também estava mudo, sem reação, com os olhos ainda fitados em Marcelo. Balançou a cabeça, suspirou, e por fim, deu o seu veredicto:

- Você está certo, senhor Marcelo, não tiro a sua razão. Pode ter certeza que farei o possível para tratar a todos conforme a sugestão do senhor, desde que também façam a sua parte. Agora, vou lhe confessar uma coisa, estou chocado com esse papel que você me escreveu. Muito chocado! Onde ele está?

- Onde ele está? Ora, na sua mão.

- Isso aqui é apenas um relatório do desempenho da equipe. Aliás, era disso que eu ia falar. Não tinha visto ainda esse papel, e confesso que fiquei estarrecido com a nossa decadência em seis meses. Era isso que eu ia mostrar. Mas agora eu quero saber, onde está esse papel?

- Então... ele não estava com o senhor?

- Se estivesse acha que eu estaria perguntando?

Marcelo olhou para Afonso. Agora caíra a ficha. Além do papel não estar com seu Gomes, ele também não sabia de nada... até ali.

- Eh... o que o senhor ia falar mesmo sobre o relatório?

***
- Nossa, meu ouvido tá doendo até agora, cara. – disse Marcelo, enquanto arrumava as suas coisas em sua sala.

- Eu imagino. Pow cara, não sei nem o que dizer. Por causa de um papel aconteceu isso tudo. Ainda bem que ele não te mandou por justa causa, não é?
- Pois é, ele sabe que eu to certo, e ele percebeu o quanto a equipe anda insatisfeita com a gestão dele. Chega uma hora que até gente casca grossa feito ele percebe as coisas como são à sua volta. Mas eu não me arrependo de ter escrito aquele papel, não. Agora me sinto muito melhor, primeiro por ter descarregado tudo aquilo, e segundo, por ter falado na cara do seu Gomes o que ele precisava ouvir.

Era a hora da despedida, antes de passar pela última porta que um empregado demitido sempre passa, a do departamento pessoal.

- Valeu mesmo Afonso, obrigado por tudo.

- Que é isso. Amigos são pra essas coisas. E vê se não fura naquela pelada que a gente marcou no sábado á tarde hein!! Não quero perder o contato com você.

E deram aquele abraço de macho, contido, mas de coração. Em seguida, Afonso disse:

- Bem, sem emprego por muito tempo você não fica. O meu amigo vai te indicar lá onde ele trabalha. Ganha até mais do que aqui e o chefe de lá é muito gente boa. Já te dei o telefone né?

- Deu, tá aqui no bolso...- e começou a fuçar no bolso só para conferir.

Foi então que, de repente, Marcelo mudou de expressão. Ficara estático.

- O que foi, cara? – perguntou Afonso.

E de repente, Marcelo puxa junto com a anotação do telefone, um papel amassado, com o logotipo da empresa.

- Eu não acredito! – surpreendeu-se Afonso. – Isso...

E Marcelo abriu o dito cujo.

- Sim, é ele. Puta que pariu... agora que eu me lembrei. Teve uma hora que seu Gomes falou da reunião, e no nervosismo, quase que inconscientemente,e enfiei com tudo dentro do meu bolso, mas lá no fundão mesmo. Nesse nervosismo todo eu nem... Ah, mas deixa quieto. Agora já é tarde. Vou guardar esta obra prima como lembrança. Pelo menos agora eu to livre daquele imbecil. Bem, vou nessa então. Mais uma vez obrigado por tudo, amigo.

- Que é isso. Desculpa não poder descer com você, mas é que o seu Gomes me entupiu de tarefas hoje, alegando que eu precisava ter mais o que fazer... – disse rindo.

- Beleza então. Até sábado.

- Até sábado.

E Marcelo fechou a porta. Afonso, agora sozinho na sala, sentou em sua mesa, ligou o seu computador, e começou a mexer com as suas planilhas. Olhou para a mesa vazia ao lado.

Sim, Marcelo faria muita falta, muita mesmo...

- É, bem que o meu avô dizia, o papel é mais paciente que o homem...

E pelo resto do dia Afonso assim ficou: cheio de trabalho, mas rindo sozinho.

Obrigado, de coração, a todos que tiveram a paciencia de ler e acompanhar todos os capitúlos dessa história...

FOTO: http://www.yogainlasvegas.com/images/stress_one.gif

terça-feira, 3 de junho de 2008

O Papel é Mais Paciente que o Homem - Parte III


Para ententer melhor a história, confira as Partes I e II.


- O quê? Tangerina podre? Eu não acredito!!!! KKKKKKKK!!!

- Nossa!! Você é louco Marcelo!!! Mas pra falar a verdade, você poderia publicar isso na reunião!!! Ia ajudar e muuito no desempenho da equipe...AH AH AH AH AH AH AH!!

- Ai tadinho!! Tangerina podre não... Coitada das tangerinas, ao contrário do seu Gomes, elas fazem tão bem...HAUHUAHAUHAUHUA!!!!!

- Nada como ter o papel pra gente desabafar não é Marcelo? Adorei a idéia, também vou fazer isso quando ele fizer piadas do meu casamento. Aquele gordo ridículo merece muito mais do que isso.

Marcelo nunca havia se divertido tanto com seus colegas como dessa vez. Chegava a ser assustador o quanto as pessoas do departamento detestavam seu Gomes. Gente vítima de gritos, palavras injustas, piadas sem graça, humilhações e simplesmente, quando queriam apenas demonstrar o melhor de si, assim como Marcelo, foram pisados pela arrogância do velho.
Porém, para a tristeza de Marcelo, ninguém vira o tal papel.

- E agora Afonso? O tempo tá passando! Eu preciso achar isso antes da reunião.

- Sabe cara, me lembrei de uma coisa agora. A faxineira não passa por aqui por volta das duas da tarde? E se ela não passou e levou esse papel com ela? Era mais ou menos por esse horário que a gente saiu pra tomar água.

- Vamos falar com ela então.
***
- Como assim a senhora já sabe dona Maria?

- Ué, do tal papel que você escreveu pro seu Gomes? Nossa, isso virou o assunto do dia. Você escreve bem rapaz. Já pensou em trabalhar fazendo humor?

- Quem sabe, dona Maria, quem sabe, mas a senhora chegou a encontrar algum papel caído lá no corredor.

- Bem...

Expressão de suspense. Marcelo e Afonso olharam para a faxineira com apreensão. Dona Maria tinha uma noticia.

- Hoje eu passei mais ou menos nesse horário de sempre no corredor de vocês. Mas daí eu passei perto de uma daquelas portas e realmente achei um papel no chão. Só que na hora, sei lá, na dúvida, resolvi entregá-lo ao seu Gomes mesmo. Eu até achei estranho pela cara furiosa que ele fez quando leu aquilo. Mas você sabe, como eu não sou uma pessoa curiosa eu não me atrevi a perguntar o que era aquilo, senão era capaz de eu perder o meu emprego...

- M-Meu Deus. Afonso!!! Eu to na roça!!!! Ele...

- Calma!! Calma!! A gente ainda não tem certeza se foi esse papel que ele leu mesmo.

- Eu to vendo a cena, cara! Ele tá quieto, não falou nada até agora. Ele vai deixar pra expor isso na reunião... Meu Deus, eu vou ver mandado embora por justa causa...

- Calma seu Marcelo. Você não conhece seu Gomes? Ele é explosivo. Se fosse isso mesmo ele já teria vindo falar com o senhor. – disse dona Maria.

- Tá vendo? Vamos fazer o seguinte. Vamos terminar o nosso trabalho, e esperar a reunião...

- Já sei, Afonso!! Vamos lá na sala dele e recuperar esse papel.

- O quê? Você ficou louco? Ir na sala dele como? O cara agora tá lá. E pior, se for mesmo o seu papel, imagina se ele te vê ali, naquela sala, a sós...

- Vixe... não quero nem pensar. É... você tem razão. Mas e então, o que a gente faz?

- Vamos esperar a reunião. Como ele já vai discutir a postura na nossa equipe, então ele vai tocar nesse assunto. Se não tocar, é porque o papel não está com ele, beleza?

- Não sei não... Acho que a gente deveria procurar mais...

- A gente já procurou o bastante. E é como a dona Maria falou, ele é explosivo, se fosse isso, já teria falado com você antes.

- Droga! Porque que eu não dei logo um fim nesse papel...

- Eu avisei...

Marcelo o olhou com a cara feia.

- Não precisa jogar na cara. Eu sei disso, mas você queria que eu fizesse o que? Bem na hora que a gente tá falando do velho ele aparece...

- Tudo bem, desculpa. – respondeu Afonso, cortando ele. - Mas vamos lá, faltam poucos minutos pra começar a reunião. Ele vai dar pela nossa falta. Relaxa, é muita coincidência esse papel ter ido parar logo nas mãos dele.

- É... muita coincidência...


aguarde... amanhã, último capítulo


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