domingo, 13 de julho de 2008

O Instinto de Sobrevivência


“O empresário Pedro Ivo de Torres Souza, 21 anos, que matou um de seus seqüestradores e fugiu de seu cativeiro na cidade de Americana, interior de São Paulo, afirmou em entrevista ao Fantástico que não repetiria o ato e que não aconselha ninguém a tomá-lo como exemplo.(...)”

Fonte: http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI2908161-EI5030,00.html

É engraçado como de uma hora para outra o ser humano que habitualmente costuma ser racional e civilizado se torna um animal irracional e seguidor dos seus próprios instintos, especialmente o de sobrevivência, podendo até se tornar um assassino.

A atitude deste jovem empresário seqüestrado é a prova de como há momentos em nossa vida que a situação parece nos empurrar para deixar a nossa civilidade de lado, e a tomar certas atitudes aos nossos olhos até condenáveis, mas que num momento de desespero, parecem ser a única saída.

A violência urbana é a prova disso. Pessoas comuns e que normalmente são inofensivas e de bom coração se vêem humilhadas na mão de assaltantes e passando por situações até desumanas. Obvio que, uma hora, baterá um sentimento de que você precisa se defender daquilo. E dependendo do momento, ele pode explodir antes mesmo que possa controlá-lo.

Mas é aí que se cria um paradoxo. Há limites para se aceitar certas atitudes como a do empresário, ou tudo que se faz na tentativa de se defender e sobreviver mediante uma situação extrema é válido?

Por exemplo, numa região onde a fome é alta, chega algum caminhão com mantimentos, o “normal” e aparecer uma aglomeração de famílias em busca daquela comida. Mas como não há para todos, a tendência é haver uma disputa para conseguir a maior quantidade, nem que se precise atropelar quem estiver na frente ou puxa-lo para fora do seu caminho. E nessas horas dane-se quem seja, se é criança, mulher, idoso, é a sobrevivência que está em jogo. Mas e a questão do respeito ao próximo, e a noção de organização, de saber dividir, de coletividade, onde ficaram?

É apenas um exemplo de que num momento desses, tudo isso fica para trás, mas também fica os prejudicados pelo caminho.

No caso desse empresário é um pouco diferente. Ele foi seqüestrado, ele matou aquele que poderia ter lhe matado. Chamou a atenção da mídia por esse fato. Muitos o aplaudiram porque acham que “bandido bom é bandido morto”.

Mas no dia a dia, o instinto acaba sempre aparecendo. Há um sentimento coletivo de que ninguém pensa em ninguém, por isso, “também vou pensar só em mim”. Há também um descrédito com a justiça (que também dá MUITOS motivos), por isso, muitos acabam por achar que fazer justiça é a melhor solução, mesmo que essa só exista na cabeça dele, e o quadro na verdade seja outro.

Mas, dependendo da situação, e é esse o problema, reagir com o instinto pode muitas vezes voltar contra si mesmo, ou na própria morte, ou no próprio remorso.

Uma coisa é certa nesse caso do empresário: uma situação de desespero é capaz de derrubar todos os conceitos de uma pessoa, e a tornar um ser movido à sua própria força, e muitas vezes, à sua própria fúria.

Mas, é tão arriscado, que no fim das contas, poderá piorar a situação ainda mais.

Mas sendo sincero, não sei o que faria se estivesse no lugar dele. É algo que só mesmo quem viveu pode saber.

E você, já pensou nisso?


FOTO: http://www.estadao.com.br/fotos/machado292.jpg

16 comentários:

Anônimo disse...

O instinto de sobrevivência fala mais alto, mas não devemos em ipótese nenhuma reagir a um assalto ou coisa do tipo porque se não é a gente leva bala.
Prabéns pelo blog.

Jhony disse...

Esse texto foi show de bola!
Mas é foda, pensa o seguinte:
O que você faria se chegasse a noite na sua casa e visse um Marginal apontando uma arma na cabeça de seu pai e sua mãe?
Que vc faria?
Se tiver uma brecha, o instinto é de que vc mate esse Marginal.
Num tem como mudar os fatos, é uma coisa que naum pode acontecer, mas o instinto e o amor pelo que amamos é mais forte!

Abração!

http://jhonyfreitas.wordpress.com

Amstalden disse...

O caso é realmente complexo. Como vc mesmo disse, não dá para saber o que faríamos em uma situação dessas. O ser humano nasceu animal como qualquer outro, apenas aprendeu a se aculturar para poder viver em sociedade o que, visto do ponto biológico que não temos nenhuma característica física que poderia garantir nossa sobrevivência, é o único motivo que nos mantém realmente vivos. Contudo, o espírito de sobrevivência própria sempre acaba falando mais alto. Duvido que os mártires da nossa História tenha ido de bom grado a caminho da morte. Mas fica mesmo essa filosofia: é certo ou é errado? Ou os nossos conceitos de certo e errado que não são os corretos? Ou será que existe algo correto nisso tudo?
Parabéns pelo texto, adorei mesmo!!!!

http://farmaco-fobia.blogspot.com

Anônimo disse...

Realmente complicado, mas numa situação assim acredito que o instinto de sobrevivencia fale mais alto mesmo e que a maioria das pessoas tendenciem a reagir mesmo e tomar alguma providencia para proteger a sua vida e a dos demais.

muito bom o texto e abre espaço para um bom debate.

Parabéns, sucesso!!!

Leandro R. disse...

Excelente qualidade o texto.

Explorado ao máximo. Fera!


http://iblogworld.blogspot.com
Acesse e participe!
Contamos com a sua presença!

Obrigado a todos!

Euzer Lopes disse...

Olha, é fácil falar quando se está de fora, quando se fica sabendo.
Mas temos de lembrar que, antes de qualquer coisa, somos animais e, como tal, temos nossos instintos. E um deles é o da sobrevivência.
Na selva, a presa tenta de todas as formas, livrar-se de seu predador. Poucas conseguem, mas tentam.
No caso do rapaz citado, ele agiu certamente sem um pingo de raciocínio e com total instinto de sobrevivência.
O que dizer de um mulher de 50 quilos, franzina, MÃE, que consegue erguer um carro para tirar seu filho que está sob as rodas dele, e depois ter dificuldade pra carregar 4 sacos de arroz?
Instinto. Nessas horas, qualquer "regra" vira retórica banal.

ex-amnésico disse...

Esse empresário declarou no rádio que, no cativeiro, era constantemente ameaçado de morte, fosse o resgate pago ou não. Nessas condições, um sequestrador que se deixa apanhar desprevenido merece morrer, mesmo.

A verdade é que, no geral, o ser humano só é racional e civilizado quando lhe convém particularmente; em geral, nosso comportamento é ditado pelos limites de nossos interesses, lícitos ou não; basta passar os olhos no noticiário para comprová-lo. Civilização e racionalidade são uma camada muito fina de verniz: o menor esbarrão basta para expor o que realmente somos por baixo dela...

Parabéns por mais essa sensata reflexão sobre uma realidade tresloucada que há muito já não causa espanto geral!

Marcos Rossato disse...

Realmente nem sequer imaginamos do que somos capazes em certas situações...
Otimo blog, muito informativo, parabens...
Suscesso ae, abraço...

Anônimo disse...

É, o instinto de sobrevivência sempre falará mais alto. O que realmente revolta a sociedade é ver que há impunidade corre às soltas por todos os lugares e nem sequer podemos fazer algo para que isso mude.


Francamente estamos em um beco sem saída onde quem vence é o erro!

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Vamos fazer uma parceria de blog: eu leio sempre o sue e você o meu?
Que tal? Aguardo resposta!

Thiago Cavalcante disse...

Boa tarde, Danilo!
Escrevo pela 1a vez em seu blog e de cara um texto tão abrangente como este.

A situação é delicada. Há muito o que se falar sobre esse assunto.
Não sei se teria coragem de tirar a vida de alguém. Mues princípios vão contra tal atitude, todavia, não sei qual seria minha reação vivenciando tal situação.


O que acontece hoje, de uma forma global, é que o homem tem esquecido de amar. Há a busca desenfreada pelo poder do "eu", e temos esquecido de que o "eu" não se resume apenas a mim, mas ao meu próximo também.

Espero voltar mais vezes por aqui.
Tens o dom da escrita.

Shalom.

Anônimo disse...

Danilo,

Seu blog realmente dá gosto de ser lido, pois há nele seriedade. Com certeza virei muitas outras vezes o ler e me informar.

Grato.

DuDu Magalhães disse...

nossa que assunto 'difícil' de se opinar. Acho que só vivendo algo parecido pra ter uma idéia formada sobre isso, ou talvez, nem assim...

Anônimo disse...

ébem complexo o caso.. não consigo nem imaginar passando por uma situção assim sendo ameaçada toda hora .. vendo sua vida por um fiu nas mãos de pessoas que vc não tem amenor idéia oq passa na cabeça .. se esta belfando ou não .. dever ser desesperador.. acredito que ele não deva se sentir nada bem com oq aconteceu com ele.. pois na nossa civilização somos educados a não matar..é claro tem os "doidos" que não estão nem ai... mas eu ainda acredito que seja a minoria..
sim .. eu acretido que o lado de instito de sobrevivencia .. mais medo .. e sei lá oq ele deve ter sentido que o levou a fazer isso ...

abç..

Anônimo disse...

Gostei do blog.

Diego Moretto disse...

Somos mais selvagens do que o pior leão existente. O fato de sermos seres pensantes piora e muito a situação. Penso assim.... somos disfarce de uma sociedade moldada.
flww..

Anônimo disse...

Infelizmente vivemos em um mundo competitivo, violento e sem sentimento algum. Espero que um dia isso mude. Abraço