sábado, 1 de março de 2008

Uma Chuva


Os ventos passaram a varrer com mais ódio. As árvores, antes mansas, agora se sacudiam com os tapas que levavam, perdendo várias folhas e pintando a grama de folhas amareladas e mortas. E era à força.

Na rua, cinzenta e vazia, com buracos nas calçadas e remendos no asfalto tão mal feitos, via-se o lixo sendo carregado pela mesma fúria. Várias latas de alumínio, copos descartáveis, restos de comida e outras quinquilharias entupiam todos os bueiros em volta.

As pessoas que passavam por ali corriam, olhando para aquele céu estranho. Uma nuvem carregada olhava hostilmente para a Terra e seu estômago parecia esburacado, pronto para despejar o que parecia lhe incomodar.

Os ventos aumentaram. Num pequeno monte de areia, uma criança montava um lindo castelo. Sua mãe saiu e mandou que o garoto entrasse por causa do tempo. O garoto quis ficar. Não deu. Fora arrastado aos berros e tapas em sua cabecinha, tapas violentos e descontrolados. Em poucos segundos, seu castelo foi varrido pelo vento, tal como algo tão insignificante quando um pedaço de graveto.

As janelas se fecharam, a rua ia se esvaziando. O mundo ficava mais escuro.

Do outro lado da rua, ao lado de uma casa abandonada, um velho cão machucado e abatido olhava para o tempo e para os lados, pensando como iria se proteger da chuva. Ao se levantar sentiu um golpe no seu traseiro. Foi uma pedra atirada por um morador daquela rua, o que queria longe dali. O cachorro o reconheceu: era o seu ex-dono. Não foi até ele pedir carinho, apenas gritou de dor, e saiu rumo a um lugar mais seguro. O vento ofuscou a sua visão por causa da terra, e ao atravessar a rua não vira o carro que passara apressadamente. A sua sorte é que o carro freara em cima. Foi xingado, mas não ligou, resolveu esconder-se embaixo da cobertura de uma igreja. Agora era só deitar e esperar que aquele mau tempo passasse.

E o tempo foi-se fechando. Os ventos mais fortes. A rua deserta. O nada como nunca.

Era o inicio de uma chuva forte.

Que as suas portas e janelas estejam bem fechadas e sejam bem resistentes. Caso não tenha nada disso, proteja-se em algum local seguro.

A chuva está chegando...

Mas pelo menos, a chuva fará bem às árvores fortalecendo as suas raízes, e as sementes crescerão ainda mais.


FOTO: http://www.metsul.com/__editor/imagemanager/images/julho2006c/raios_em_illinois_2.jpg

8 comentários:

Gi Olmedo disse...

Somos sujeitos a chuvas e trovoadas. Mas um bom alicerce e uma cobertura forte e carinhosa nos protege do mal. Saímos com alguns respingos, mas evitar que os raios nos atinjam é nossa missão e obrigação, assim como proteger aqueles que nos cercam.

Fiquei com dó do cãozinho... snif!

Beijos, Dan!

Anônimo disse...

Gostei de maneira meio descritiva do seu texto, e a chuva tem que fazer bem alguém, fiquei com dó do cachorro .

Denise Machado disse...

Me lembrou Floripa, vento sul e medo que já senti... Na época, eu tinha uma ventania inteira dentro de mim, me destelhando inteira, como senti em vc.
Lindo...

Critical Watcher disse...

Danilo.
É engraçado como eu te lendo lembrei do escritor Oscar Wilde. Ele consegue comover-nos bastante e faz uso dos sentimentos que os animais podem sentir.
Adorei mesmo!
;)

Mila Cardozo disse...

é engraçado como tudo é uma questão de olhar.... de prisma.... tudo pode ser bom... ou menos bom.. dependendo do momento... é... lindo texto!!!!
Beijos Mila

Éverton Vidal Azevedo disse...

Chuvas, caes, árvores... é pra pensar...
Belo texto.
Inté!

Diego Moretto disse...

Caramba.....me colocando no meio do post, que as tempestades em minha vida tenham sessado. hehehehehehe.

Cara, demorei mas vim. Ta dificil eu atualizar meu blog e de reponder, mas vim aqui :)
Muito obrigado viu?! Grande abraço!

R Lima disse...

Chuva que clareia nosso sentido.. e em nuvens tenebrosas saceiam nossa sede de visão..

Que o dia amanheça aqui, ali ou em qualquer lugar em forte sol.

Abçs meu caro,



Texto de hoje: sEm reSerVaS...

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