- Mãe?
- Hum?
- Posso te fazer uma pergunta?
A mulher que estava deitada no sofá lendo uma revista, respondeu ao garoto sem olhá-lo.
- Claro filho. Manda.
Ele respirou fundo. A pergunta era importante.
- De onde vêm os bebês?
A mãe tirou um pulo do sofá, largando a revista do chão.
- Tudo bem, mãe?
- Eh... claro querido. É que você me pegou de surpresa com essa pergunta.
- Por quê?
- Eh... bem...
Saia justa. Como é que ela iria explicar essas coisas?
- Anda mãe! De onde vêm os bebês?
- Eh... filhinho, espera só um pouco que a mamãe já volta, tá?
E saiu correndo para o seu quarto. Foi pedir ajuda ao marido. Como dizer pra ele o que era...
- Ah mulher, deixa de frescura! Ele já tem sete anos! Hoje em dia tem criança até mais nova do que ele que já sabe o que é.
- Mesmo assim querido. Aquele olhinho dele, tão puro, tão inocente... Dá até dó. Eu não sei como explicar.
- Deixa comigo. Eu sou um homem moderno. Eu sei explicar como é que a parada funciona. Ele até vai se sentir mais à vontade conversando isso comigo do que com você. Calma aí...
E foi até a sala, mulher atrás. Chegando lá, falou com o garoto.
- Você quer saber de onde vêm os bebes, não é?
- Quero! – respondeu o garoto, muito curioso.
- Pois eu vou te contar tudo, tim-tim-por-tim-tim. Querida, deixe-nos a sós. Isso é conversa entre homens.
- Boa sorte. – respondeu ela, fechando a porta.
E foi para a cozinha, ansiosa.
Minutos depois:
- E aí, como ele reagiu? – perguntou ela, curiosa e ao mesmo tempo aflita.
- Bem... eu comecei a contar e... daí eu olhei para a carinha dele... Tão novo... tão inocente... Já tendo que saber dessas coisas... Eu não tive coragem. Contei a história da cegonha. Acho que ele acreditou. É melhor esperar mais alguns anos. Até lá a gente evita qualquer coisa que mostre ou leve ao assunto.
- Então tá... pra quem se dizia moderno...
- Eu sou moderno, mas responsável. E ponto final nesse assunto.
- É, ponto final.
Respiraram aliviados. O menino já estava se arrumando para ir à escola que ficava em frente à casa. Despediu-se dos pais e saiu, satisfeito com o que havia descoberto:
“Os bebês são trazidos pela cegonha! Pela cegonha! Puxa... agora eu me sinto um homem de verdade!”
Horas depois, o garoto chegou em casa. Pai e mãe estavam sentados no sofá da sala assistindo TV. Sem perder tempo, o menino puxou o pai pelo braço, arrastando-o até seu quarto.
- O que foi filho? Aconteceu alguma coisa? Você está sério.
A mãe, que ao ver a cena ficara preocupada, resolveu seguí-los, ficando escondida atrás da porta e espiando pelo buraco da fechadura.
- O que aconteceu rapaz? Fizeram alguma coisa com você lá na escola?
- Nada. É que eu queria te contar uma coisa...
A mãe ajeitou os cabelos, tensa. O que será que havia acontecido com ele?
- O senhor é muito inocente pai! Fala sério!
- Inocente? – espantou-se o pai. – Inocente por quê?
- Ora, o senhor acredita que bebê vem de cegonha. Pô pai deixa disso. Os meus colegas da escola me contaram tudo.
- Contaram? – espantou-se o pai, temendo o que iria ouvir.
- Sabe como é, né pai? O senhor e a mamãe já fizeram...
Sim, ele já sabia de tudo.
- Bem filho, agora que você já sabe, não fique comentando por aí. É chato, beleza?
- Beleza. Pode deixar. Quem diria... Por isso que eu ouvia aqueles barulhos estranhos de madrugada...
- Eh... filho...
- Por isso que quando eu queria ver o canal 13 de madrugada você não deixava...
- Bem...
- Por isso que a mamãe vivia falando que “hoje à noite o pau vai comer”...
- Eh... filho...
- Por isso que às vezes eu ouvia você falando “me dá, me dá logo, eu preciso lamber isso agora!”
- Meu Deus... – espantou-se o pai, constrangido.
Do outro lado da porta, a mãe pôs a mão na boca, constrangida. E lá no quarto, sem saber o que fazer, o pai só escutava, vermelho, mal conseguindo olhar para o garoto. Mas ele tinha que dizer alguma coisa, afinal, apesar de tudo, isso era uma coisa normal.
- Bem filho, ainda bem que você não ficou assustado. Agora que você sabe, me diga, o que achou na hora quando soube?
- Eu adorei pai! Puxa, quando é que eu ia imaginar que de madrugada, o senhor e a mãe iam pra cozinha, faziam uma massa com aquele pau de macarrão, e daí a mamãe comia e aí ficava grávida! Essa receita, pelo que eu entendi, ela aprendeu num programa que passa de madrugada no canal 13, e quando ela fazia ficava tão boa que o senhor vivia pedindo “me da, me dá, eu preciso lamber isso agora!”. Igualzinho ao que faço quando quero lamber a tigela do bolo. Essa receita deve ser mesmo boa hein papai! Pena que não dá bebê toda vez, só de vez em quando...
Receita? Ao ouvir isso, o pai abriu um sorriso. Ele ainda não sabia! Com certeza os colegas que também eram da mesma idade que ele tinham inventado ou ouvido essa história de seus pais. O garoto continuava sem saber! A mãe, após ouvir a história do garoto, também pulou de alegria e voltou para a sala aliviada.
- Pai, agora eu sou um homem de verdade, não é?
- Sim filho, mais até do que eu... mais até do que eu...
E após ouvir isso, o garoto encheu o peito de ar, ficou de pé, e saiu do quarto sentindo-se um homem mais maduro e mais experiente.
10 comentários:
Haushausas... perfeito!
Ótimo texto... mas dá medo saber que as crinaças de hj não acreditam na "receita" se contássemos!! Já er o tempo que mamãe mandava filhinho ir na esquina ver se ela estava lá e ele ia...!! O.o
^^
Parabens!!
AAh, e hj é dia do escritor, portanto... parabens de novo!! rs...
Que lindinho!!!!
Adoro historias de crianças,melhor ainda dessas histórias e crianças que nao existem mais (como já foi dito)...
Excelente quando num texto bem escrito..
Muito bom...
Bjos
Ótimo texto..... lindo msm.. Bjos
Otimo texto!
Parabens!
xD~~
ahhahahah...ótimo texto!!!!!! Vou lembrar dele qndo tiver um filho e ele me perguntar !!!!ahahhahahah...abraço.
maravilha de texto, parabens
Que lindinha essa história! Muito boa mesmo! ^^
FOfa²!
Eu devo ter sido uma massa com chocolate, pq sou um doce de menina! hAUhUAHuHAU
bjao
muito meigo
meygozado
rssrs.. e pensar q meu filho já tinha perguntado isso prá mim. Vc deveria ter postado antes, tá? Só assim eu teria uma desculpa melhor e não abriria o jogo!
Hoje em dia o tempo passa mto depressa. Qdo percebemos, nossos filhos já são homens e mulheres, e não é mais possível protegê-los desse e de outros fatos do mundo (principalmente aqueles q doem). O tempo não pára, já diria o poeta!
Amei o conto. Bjo!
puts muito bom....
adorei....vlw....
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