
Em seu quarto, deitada em sua cama, Lia assistia um documentário na televisão, que falava das conquistas da mulher nos últimos sessenta anos. Seu marido, Ronaldo, assistia a atração meio contrariado.
- Pô amor, será que dá pra você desligar essa televisão? Vamos fazer algo mais interessante...
- Depois amor. – respondeu ela sem tirar os olhos da tevê.
- Ainda bem que esse troço já tá acabando... que porre!
- Porre é aquele joguinho de futebol que você tava querendo assistir. Antes fosse o seu time que tivesse jogando...
- E daí que o meu time não tá jogando? Futebol é futebol, independente se...
E foi interrompido por um sonoro “Silencio! Eu quero assistir a TV!” dito pela mulher. O homem bufou. Resolveu ficar calado até acabar o documentário.
E finalmente, após alguns minutos, a atração acabou. Lia se levantou da cama, pegou o controle em cima da televisão e a desligou. Ronaldo respirou aliviado. Enquanto se trocava para dormir, Lia comentou:
- Você viu, amor, como as coisas mudaram para nós mulheres da década de 40 para cá?
- Hum... sei...
- As mulheres eram submissas aos homens. Não podiam falar nada, não podiam se vestir como quisessem, não podiam levantar a voz para os seus maridos...
- ... ahn... sei...
- ... eram obrigadas a fazerem amor mesmo quando não queriam...
- ... ahn...
- ... e o pior de tudo: não podiam trabalhar fora! Que absurdo!
- Tá bom, amor. Agora chega desse papo e vamos fazer um pouco de...
E foi interrompida pelo raciocínio dela:
- Ainda bem que isso tudo ficou para trás. Hoje as mulheres podem fazer o que quiserem, falar o que quiserem, se vestir como quiserem, e principalmente, trabalhar fora aonde e como quiserem. E tudo isso sem precisar de autorização de homem nenhum. Vocês não estão com nada. Não precisamos mais de vocês. Hoje nós mulheres somos auto-suficientes, correto amor?
- Tá, tá bom! Vocês são as donas do mundo! Agora chega desse assunto e vamos nos curtir um pouquinho. Vem cá, amor, vem.
Lia então, sorriu, resolvendo dar uma colher de chá:
- Tá bom.
E Ronaldo finalmente teve o seu desejo atendido. Carícias, beijos, amassos... tudo isso foi aumentando conforme se passavam os minutos. E o clima foi esquentando... esquentando... esquentando... até que de repente, Lia arregalou os olhos e se soltou do marido, se encolhendo na cabeceira da cama:
- AAAAAAAAAHHHHH! AAAAAAAAHHHHHHH! AAAAAAAAAHHHHHH!
Assustado, Ronaldo perguntou:
- O que foi amor? O que foi?
- Uma barata! Uma barata ali perto da porta! Mata ela meu amor, mata ela!
E rapidamente o marido saltou da cama, pegou o seu chinelo e disparou até a barata que estava atrás da porta. Lia se arrepiava inteira toda vez que o inseto corria. Ronaldo o perseguia por todos os cantos do quarto. Quando a barata parava, ele se concentrava... mirava o chinelo e... nada! A barata conseguia escapar. E lá ia ele revirar os móveis e os objetos.
- AAAhh! Olha ela aqui, amor, perto do criado mudo! Mata! Mata!
- Aonde amor? - perguntou Ronaldo, desnorteado.
- Ali, sua anta! AAAAAAAiiiiii, ela mexeu, ali, amor, perto do rodapé!!! Mata!!! Mataaaa!!!!
Ronaldo ficou quieto. Agora é que ele iria pegar o inseto. Se aproximou devagar do bichinho de antenas desinquietas, e sem pensar duas vezes jogou o chinelo com força. Foi certeiro. Lia respirou aliviada.
- Ufa! Como eu odeio essa porcaria. Aposto que veio do esgoto.
- Fazer o quê... acontece... Eu vou buscar uma pá.
E então, após Ronaldo jogar o inseto no lixo e limpar o chão e o chinelo, subiu novamente na cama, e acariciou o rosto da mulher.
- Pronto. Ninguém mais vai nos incomodar. Vamos continuar de onde paramos?
Lia sorriu, agora mais calma:
- Você é quem manda, meu herói...
E enfim voltaram à atividade amorosa, agora mais excitados do que nunca. Foi aí que, enquanto beijava o marido, Lia concluiu consigo mesma:
“É... pensando bem... as mulheres não mudaram tanto assim...”
FOTO:
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