
O rapaz está sentado no asfalto, cabeça baixa, ego baixo.
Olha em seu relógio. Cada hora dividida em compromissos. Cada minuto dividido em etapas de compromissos. Cada segundo dividido em partículas de poluição amparadas nos pulmões dos desejos de nossos superiores em cumprir metas.
As metas da sua vida.
As metas do seu ano.
As metas do seu mês.
Da sua hora.
Dos seus minutos.
Dos seus segundos.
Seu paletó quente aperta o seu pescoço, quase o sufocando.
Há paredes por toda a sua volta.
As paredes são terríveis.
Surto.
Ele fica de pé. Quer sair dali.
Bateu a cabeça numa parede.
A perna raspou na outra.
O cotovelo bateu em outra.
E as suas costas se prensaram na de trás.
Tombo.
As paredes não o deixam passar.
Ele precisa sair.
Ver o mundo.
Ver a vida.
Ver-se.
Calor. Suor. Dó. O paletó está de novo o sufocando. Ele precisa sair dali antes que morra sufocado.
Parte para a agressividade.
Soca as paredes. As chuta. As pisoteia. As insulta. As empurra.
Nada. Cansara. Resolveu ignorá-las. Era hora de voltar para seus compromissos. Voltara para o chão. Começara a trabalhar. Não sei dizer o que é porque não limpei os meus óculos e estou sem lenço. A poluição está terrível e ás vezes mal consigo enxergar as coisas como elas realmente são.
E de repente, para a sua surpresa, as paredes se abrem.
E ele, esperto, sai.
Dia lindo.
Pessoas lindas.
Paisagens lindas.
Vida linda.
Liberdade.
Mas afinal, o que é que ele vai fazer mesmo?
...TIC TAC TIC TAC TIC TAC TIC TAC TIC TAC TIC TAC...
Tédio. Ficar sem fazer nada era muito chato.
Começou a sentir falta do asfalto e das paredes.
Resolveu voltar para lá.
Compromissos. Hora, minutos e segundos. Que merda, cansaço e sufocamento de novo!
Mas sei lá... era melhor do que não fazer nada.
E assim, permaneceu entre as paredes, fechado com seus compromissos e apoiado no asfalto.
E assim, permaneceu entre as paredes, fechado com seus compromissos e apoiado no asfalto.
Na verdade, seus braços se acostumaram a se escorar nas paredes, e seu corpo, infelizmente, acostumara-se a repousar a sua carne e seus ossos passados naquele asfalto imundo.
Paciência, que venha a chuva e a tempestade...